Ucrânia relata ataque maciço de mísseis e drones russos
Após uma série de reveses militares e perdas territoriais nos últimos meses, a Rússia realizou nesta quinta-feira um de seus ataques aéreos mais intensos desde que começou sua invasão na Ucrânia em 24 de fevereiro. O governo de Vladimir Putin usou drones e mísseis para atacar a infraestrutura de energia ucraniana, com relatos de explosões nas principais cidades do país, como Lviv e Kiev, onde 40% da população está sem acesso à eletricidade em pleno inverno.
O Comando da Força Aérea da Ucrânia disse no Facebook que Moscou lançou mísseis de cruzeiro de navios e bombardeiros estratégicos, contra pontos tão distantes entre si do território como Kharkiv, no Leste, Odessa, no Sul, e Sumy, no Norte. As sirenes soaram por volta de 5h30 da manhã (0h30 no Brasil) em boa parte da Ucrânia, e o Comando Militar do Sul ucraniano alertou que dois navios russos no Mar Negro davam sinais de estarem perto de disparar.
"29 de dezembro. Ataque maciço de mísseis (...) O inimigo ataca a Ucrânia de várias direções com mísseis aéreos e marítimos de aviões e navios", postou a Força Aérea sobre o episódio que deixou ao menos quatro feridos.
Em seu Twitter, Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky disse que mais de 120 mísseis foram usados no assalto mais recente, o décimo do tipo desde que o Kremlin começou a mirar infraestruturas energéticas em setembro. O chefe das Forças Armadas, Valery Zaluzhny, contudo, disse mais tarde que foram lançados 69 mísseis, e 54 deles foram interceptados.
O ataque ocorreu no mesmo dia em que o chanceler russo, Sergei Lavrov, descartou a "fórmula da paz" apresentada pela Ucrânia como uma base para negociações que ponham um fim à guerra, plano que incluiu dez pontos como a retirada de todas as tropas e a devolução dos territórios anexados. Moscou, por sua vez, insiste que não abrirá mão dos quatro territórios — Zaporíjia, Kherson, no Sul, e Luhansk e Donestk, no Leste — que incorporou unilateralmente após contestados referendos em setembro.
À agência estatal de notícia RIA, Lavrov disse que as esperanças ucranianas de expulsar a Rússia do Leste da Ucrânia e da Península da Crimeia, anexada em 2014, são uma "ilusão". Paralelamente, o porta-voz da Chancelaria, Dmitry Peskov, afirmou que as demandas de Kiev "não levam em conta a realidade atual do território russo, com a entrada das quatro regiões".
Moscou ainda não se pronunciou sobre os ataques aéreos desta quinta, mas a Força Aérea ucraniana disse nas redes sociais que os drones kamikaze que o Kremlin comprou do Irã foram usados na primeira leva do ataque, aparentemente para confundir os sistemas de defesa antes do ataque de mísseis. Eles têm a capacidade de esperar ao redor do alvo até que recebam a instrução para mergulhar e explodirem no impacto.
De acordo com o país de Zelensky, apenas em Kharkov, a segunda maior cidade do país, 13 drones iranianos Shahed-1356 foram lançados contra a infraestrutura energética, e 11 foram interceptados.
Em Kiev, foram ouvidas sete ou oito explosões, incluindo uma que estraçalhou janelas e fez alarmes de carros disparar no centro da capital, mas os detalhes não estão claros. Também não se sabe se os barulhos foram resultados de ataques bem-sucedidos ou de mísseis interceptados pelo sistema de defesa antiaérea.
Em uma postagem no Telegram, a prefeitura de Kiev disse uma casa e um carro foram danificados por destroços de um míssil que foi abatido no céu da cidade, mas não se sabe se alguém ficou ferido. Segundo a administração militar da cidade, uma "empresa industrial" e um jardim de infância foram danificados no Sudoeste da cidade. O prefeito, Vitaly Klitschko, afirmou que 40% da população está sem acesso à energia.
"Os sistemas de defesa antiaérea estão funcionando", disse o governo local em outra postagem. "Fiquem calmos! Mantenham-se abrigados!"
Em Lviv, no Oeste, as explosões deixaram 90% da cidade sem eletricidade, disse o prefeito Andrii Sadovyi. O governador da região homônima, Maksim Kozytsky, disse que a defesa aérea estava operacional e pediu aos moradores que ficassem em abrigos.
Cinco drones foram abatidos no espaço aéreo próximo à cidade de Dnipro, no Sudoeste ucraniano, e um míssil foi derrubado na região de Sumy, no Nordeste. Nos subúrbios de Zaporíjia, no Sul, disse o governador regional Oleksandr Starukh, vários prédios, um gasoduto e uma linha de energia foram danificados.
A ofensiva ocorre na semana seguinte à viagem do presidente Volodymyr Zelensky a Washington, a primeira desde que a guerra começou, em que conseguiu a doação de uma bateria de mísseis Patriot, um dos sistemas de defesa aérea mais avançados que os americanos têm, capaz de abater mísseis de cruzeiro e balísticos de curto alcance. Pouco depois, o Congresso do país de Joe Biden aprovou US$ 44 bilhões em nova ajuda para Ucrânia.
No total, as remessas americanas para apoiar a defesa da Ucrânia contra a invasão russa ultrapassarão US$ 100 bilhões neste ano, divididas em quatro pacotes de gastos emergenciais. O envio de armas feito pelos Estados Unidos e seus aliados foi chave para a contraofensiva que permitiu aos ucranianos vitórias consecutivas nos últimos meses.
Um míssil ucraniano, segundo o governo da Bielorrússia, aliada de Moscou, caiu no território do país. De acordo com o Ministério da Defesa de Minsk, o artefato foi lançado por um sistema de defesa antiaérea S-300 e era "proveniente do território ucraniano".
Fonte: O Globo e agências internacionais — Kiev