Pandemia aproxima voluntários e pessoas em situação de rua na capital sergipana
“Fui fazer uma experiência, com a doação de quentinhas. Levei esse projeto para minha família e a gente se apaixonou de imediato. Não paramos mais”. O relato é da fisioterapeuta Tânia Menezes, que todos os sábados se junta ao esposo e a filha para preparar as quentinhas e levar à população em situação de rua no município de Aracaju.
Mesmo sabendo dos riscos que estavam correndo ao circular pela cidade durante a pandemia, a família Menezes deixou a solidariedade falar mais alto para ajudar as cerca de 200 pessoas que vivem hoje nesta situação na capital de Sergipe.
“É uma satisfação da gente saber que o pouco que se fizer por essas pessoas ameniza, nem que seja naquele instante, essa dor e essa situação que passam”, conta o cirurgião dentista, Luis Eduardo Menezes.
“Às vezes o pouco que a gente pode fazer por outra pessoa tem um impacto tão grande na vida delas que a gente nem imagina. Pode ser uma palavra, um abraço – por mais que a gente não possa abraçar neste momento – mas, só em ouvir ajuda muito”, pontua a cirurgiã dentista, Maria Eduarda de Menezes.
Tânia, Luis e Maria Eduarda são voluntários na Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de Aracaju, que há dois anos iniciou o trabalho na capital. No começou, o atendimento acontecia na Paróquia São Pedro e São Paulo, no Bairro Industrial, e com a pandemia passou a levar a alimentação nos locais até os locais onde se encontravam.
“Estamos há 180 dias, todas as noites, levando alimento e um pouco do amor daqueles que nos doam. Daqueles que retribuem o carinho o amor a todos eles. O que eles mais nos questionam é quando todos dizem: fiquem em casa. E para quem não tem casa? Onde se abrigar? A população de rua mais do que dobrou nesta época. Muitas famílias estão vindo às ruas, sem condições de pagar um aluguel, sem renda. Observamos que muitas dessas pessoas vivem muito apreensivas sobre o que será deles no pós-pandemia”, conta o coordenador da Pastoral do Povo da Rua, Marcos Corrêa Carvalho.
“Estou com meus colegas na rua e graças a Deus é uma grande ajuda que a gente recebe dessas pessoas maravilhosas doando nosso café, do dia, da noite. Só tenho a agradecer primeiramente a Deus e essas pessoas que trazem o alimento, fé e carinho para nós”, diz Ivan Soares dos Santo.
Por causa da pandemia, a Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) General Freitas Brandão, no Bairro Suíssa, foi transformada em abrigo para receber as pessoas em situação de rua. Foi lá que, depois de passar dias nas ruas, o jovem Nicolas Iago da Cruz, de 28 anos, natural de São Paulo, achou proteção.
Ele conta que foi um problema no casamento que o fez largar tudo e sair sem rumo. “Sou da cidade de São Paulo e hoje estou em situação de rua por uns fatos ocorridos na minha vida. E a gente tem altos e baixos”, afirma.
No abrigo, ele e os colegas fizeram um desabafo em forma de arte. O desenho, que chamaram de árvore dos sonhos, ganhou a frase: “Não sou morador de rua. Só estou em mal situação, mas temos sonho... mas, Deus é fiel” (sic).
“Independentemente da classe social de cada um, nós também somos seres humanos”, fala emocionado.
Com a ajuda que recebeu nas ruas, Nicolas já está de malas prontas para voltar para a casa da família.
Quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho da Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de Aracaju é só acessar a rede social deles. Por lá, é possível falar com a coordenação e ajudar com as doações ou mesmo sendo voluntários.
Fonte: Anderson Barbosa, G1 SE