Jovem trans que luta por mastectomia relata humilhação em busca da cirurgia no litoral de SP

Jovem trans que luta por mastectomia relata humilhação em busca da cirurgia no litoral de SP
Dante fez relato sobre dificuldade de conseguir realizar cirurgia de retirada dos seios — Foto: Arquivo Pessoal

Há quatro anos, o ilustrador e barista Dante Lucas Detter, de 24 anos, se descobriu um homem transexual. O jovem, que faz tratamento hormonal e acompanhamento psicológico decidiu criar uma campanha para conseguir fazer a mastectomia, que tenta há três anos, e não consegue pela grande burocracia. Além de conseguir a quantia necessária, o ilustrador usou as redes para desabafar e relatar a realidade de pessoas trangênero.

“Já chegou a um ponto onde não é mais só um incômodo, é uma humilhação. As pessoas não olham a minha barba, olham o volume na minha roupa. É horrível”, desabafa Dante em entrevista ao G1.

Natural de Santos, no litoral de São Paulo, o jovem conta que desde que se descobriu trans passou por mudanças entre a cidade natal e a capital paulista, por causa dos estudos e trabalho. A mudança constante fez com que Dante não conseguisse os laudos dos dois anos de tratamento hormonal necessários para entrar na fila do SUS para realização de mastectomia.

Apesar de ter o tempo de tratamento, ele precisa da comprovação que não conseguiu em todos os locais que passou. A burocracia fez com que o jovem procurasse o convênio, onde descobriu que a cirurgia é considerada um procedimento estético de baixa relevância, não tendo cobertura. Dante precisou, então, lidar com a falta de preparo de médicos e profissionais que relatavam não saber como tratá-lo.

“A maioria dos endocrinologistas com os quais me consultei diziam que não podiam me receitar o hormônio porque ‘não sabiam lidar com o meu caso’. Um absurdo!”, relembra Dante.

Sua história e os quase três anos de luta por uma mastectomia fizeram com que o ilustrador começasse uma campanha online para conseguir o valor, aproveitando o espaço para relatar suas experiências e vivências como pessoa trans. Na campanha intitulada ‘Mastectomia para mim e para outros também’, ele busca conscientizar sobre casos como o dele.

“Eu realmente estou nessa querendo ajudar os outros e não apenas a mim mesmo. Sei que tem muita gente passando por situações como a minha”, conta. Ele relata que, caso consiga fazer o procedimento pelo SUS, doará o valor para outras pessoas que buscam a cirurgia.

Descoberta

Dante relata que se descobriu como um homem trans após passar por um relacionamento abusivo entre 18 e 19 anos. Ele passou a ter dúvidas sobre a própria identidade e perceber que gostaria de ser tratado no gênero masculino. Com a ajuda de amigos, ele passou por um processo de aceitação até procurar o serviço de tratamento hormonal.

"Foi como se eu estivesse na lama a vida toda e a partir daquele momento eu finalmente pudesse respirar", descreve o ilustrador.

Na época, ele morava na capital paulista e começou o tratamento hormonal pelo SUS, sendo indicado para o CRT Santa Cruz, onde existe acolhimento com equipe multidisciplinar pra pessoas transgênero. Pouco tempo depois, ele retornou para Santos, e relembra que o apoio da família foi primordial, especialmente a compreensão da mãe.

“Eu juro que não precisava da aprovação de ninguém, mas foi um alívio tão grande que sinto como se não precisasse ter medo de mais nada. Foi com ela me ajudando que conseguimos encontrar profissionais qualificados pra continuar o tratamento. Foi ela que deu meu nome também. É precioso demais pra mim”, diz Dante.

Fonte: Leticia Gomes, G1 Santos