Gloria Maria sobre os novos tempos: "Acho tudo isso um saco. Hoje tudo é racismo, preconceito e assédio"

Gloria Maria sobre os novos tempos:
Gloria Maria está em quarentena há dez meses (Foto: Globo/Ramón Vasconcelos)

Gloria Maria está há 10 meses em quarentena. É que, antes mesmo de as pessoas aderirem ao isolamento social por causa da pandemia da Covid-19, a jornalista já estava mais em casa depois de ser submetida a uma delicada cirurgia para retirada de um tumor no cérebro, em novembro do ano passado. A apresentadora do Globo Repórter contou que é a primeira vez em mais de 40 anos que parou para valer e que sente um certo constrangimento ao ouvir as pessoas pedindo para voltar à rotina, enquanto ela só agradece a possibilidade de estar em casa. Ela disse, ainda, não acreditar no "novo normal" tão pregado nos dias de hoje.

"Ou é novo, ou é normal, vamos ter que partir para novos olhares. Nada mudou, mas algumas pessoas se viram melhor, começaram a se observar. É preciso uma pandemia para olhar para o outro?", questionou ela durante live com a jornalista Joyce Pascowitch.

Além de passar pelo processo de cura do câncer cerebral, Gloria vivenciou outros momentos de superação, como a perda da mãe, Dona Edna e a pandemia. "Passado é historia, nem quero falar muito do que passou, estou aqui inteira, curada", comemorou ela, que falou sobre vários assuntos, como assédio e preconceito.

"Eu acho tudo isso um saco. Hoje tudo é racismo, preconceito e assédio. A equipe com que trabalho me chama de 'neguinha', de uma forma amorosa e carinhosa. Estou mais de 40 anos na televisão, já fui paquerada, mas nunca me senti assediada moralmente. O assedio é algo que te fere, é grosseiro, desmoraliza. Existe uma cultura hoje que nada pode. Tem que ter uma diferenciação, não dá para generalizar tudo. O politicamente correto é um porre. Acredito que o politicamente correto é o caráter, a honestidade. Esse mundo que a gente está vem muito da amargura das pessoas, não aceito".

PANDEMIA

Gloria falou sobre a pandemia e disse que se considera a pessoa mais isolada do Brasil. "São 10 meses, emendei a cirurgia com a pandemia. Não vi um mudo novo surgir nesse período. Viajei 40 anos sem parar e de repente estava em casa quietinha, observando. Vi coisas inacreditáveis, desamor, um mar de lama… Ou é novo, ou é normal, vamos ter que partir de novos olhares. Nada mudou, mas algumas pessoas se viram melhor, começaram a se observar. Será que é preciso uma pandemia para olhar para o outro? Isso é uma coisa da sua alma, não acredito nessa ajuda só porque é hora de ajudar. Ou você olha sempre para o outro, ou você não olha nunca", disse.

A jornalista afirmou que foi bom parar. "Não tinha noção do que era a minha casa, nunca tive a chance e esse período foi maravilhoso. Comecei a olhar meu jardim, meus quadros… Tinha vergonha quando falava com as pessoas no telefone e elas reclamavam da pandemia. Como ia explicar que eu estava adorando? Descobri amigos que não sabia mais que tinha, livros… Esse isolamento me preencheu a alma. Com a tragédia eu estou acostumada, cobri guerras, violência, dor, sofrimento, poucas pessoas entendem mais do que eu. Pude ficar em paz comigo mesma, coisa que há 'séculos' não conseguia", afirmou.

Glória voltou à apresentação do Globo Repórter na sexta-feira passada no especial do programa sobre os 70 anos da TV, que foi dividido em duas partes. "Foi a viagem que eu não estava fazendo. A produção do programa me mandou o material do acervo e revi coisas da minha história que não lembrava mais. Várias vezes me emocionei e chorei. Revivi momentos da minha trajetória e estou viva para recordar isso. Voltei em uma edição especial do 'Globo Repórter', nada é por acaso, Deus sabe o motivo. Esse programa fez eu reencontrar a Gloria Maria vaidosa", contou.

Para a jornalista, a TV modernizou voltando ao passado com as reprises. "Nesse tempo foram criados vários programas em novo formato, mas os antigos também retornaram. A modernidade veio para ficar, mas o conteúdo precisa ser repensado. Não adianta querer ir para um planeta que as pessoas não querem saber ainda. Muitas coisas surgiram nessa pandemia, mas poucas vão permanecer. A maneira de conduzir será mais atualizada e dá para tirar várias lições", argumentou ela, que já sabe o que vai fazer quando a pandemia acabar.

"Quando isso passar quero entrar em um avião e ir para a Arábia Saudita. Estudei algumas coisas e novidades por lá, quero ver o que está acontecendo. Também vou de novo para o Taiti, não sou boba nem nada", entregou, aos risos.

Fonte: Quem News/Globo.com