Após polêmica sobre país quebrado, Bolsonaro ironiza: 'Brasil está bem, está uma maravilha'
BRASÍLIA — Um dia após dizer que o Brasil está "quebrado" e que não pode fazer "nada", o presidente Jair Bolsonaro ironizou a situação nesta quarta-feira e disse que o país está uma "maravilha". Bolsonaro também criticou a cobertura da imprensa sobre a sua declaração.
— Confusão ontem, viu? Que eu falei que o Brasil estava quebrado? Não, o Brasil está bem, está uma maravilha — disse o presidente, rindo, a apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada.
A declaração anterior, feita na terça-feira, também foi feita a apoiadores no Alvorada. O presidente colocou a culpa da situação em que vive o país na pandemia de Covid-19 e na imprensa, que, segundo ele, teria "potencializado" o coronavírus.
Ele citou especificamente a alteração na tabela do Imposto de Renda como uma das promessas que não consegue cumprir.
— O Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda...Teve esse vírus, potencializado pela mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter — disse na terça-feira.
Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro prometeu isentar o IR de quem ganha até R$ 5 mil. Hoje, o limite de isenção é de R$ 1.903,98. No fim de 2019, propôs uma elevação para R$ 3 mil, mas o plano também não foi adiante.
Mas essa não foi a única promessa não cumprida. Eleito com um programa econômico liberal e reformista, Bolsonaro não conseguiu aprovar reformas estruturais para além das mudanças nas regras de aposentadoria, em 2019.
Tem tido dificuldades para fazer privatizações e controlar as contas públicas. Também pretendia substituir o Bolsa Família por um benefício de valor maior e mais abrangente, batizado de Renda Brasil e depois de Renda Cidadã. Sem espaço fiscal, a ideia não avançou.
Especialistas contestaram a fala do presidente. Disseram que o país vive uma situação de crise fiscal grave, que pode levar à insustentabilidade da dívida pública. Mas está longe de estar quebrado.
Os economistas disseram ainda que cabe ao governo articular com o Congresso a aprovação das reformas necessárias para tirar o país da crise.
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a declaração e disse que Bolsonaro se referia ao setor público.
— Ele está se referindo, evidentemente, à situação do setor público, que está numa situação financeira difícil. Porque, depois dos excessos de gastos cometidos por governos anteriores, quando chegou o primeiro governo falando que vai cortar forte, foi fulminado pela pandemia. Nós estamos reconhecendo a dificuldade da situação, mas decididos a enfrentar. Nós vamos seguir com as reformas estruturais. Foi só isso — disse Guedes, afirmando que compartilha do mesmo diagnóstico do presidente de que a situação do setor público ficou difícil.
Na manhã desta quarta-feira, Bolsonaro convocou uma reunião com a maior parte do seu ministério. Guedes, que estava de férias, interrompeu seu recesso para ir ao encontro, que ocorre no Palácio do Planalto.
Fonte: Daniel Gullino/O Globo