Papa Francisco expressa vergonha após divulgação de relatório sobre abusos cometidos por religiosos na França

Papa Francisco expressa vergonha após divulgação de relatório sobre abusos cometidos por religiosos na França
Papa Francisco expressa 'vergonha' após divulgação de relatório sobre abusos cometidos por religiosos na França Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP

VATICANO — O papa Francisco demonstrou "vergonha, tristeza e pesar" pelas vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica da França após a divulgação nesta terça-feira do relatório de uma investigação independente sobre a conduta de integrantes do clero e fiéis. O documento aponta que ao menos 216 mil crianças foram abusadas nos últimos 70 anos, número que pode ultrapassar os 300 mil se consideradas agressões cometidas por colaboradores da Igreja sem cargos eclesiásticos.

— Desejo expressar às vítimas minha tristeza e meu pesar pelos traumas sofridos e minha vergonha, nossa vergonha, pela longa incapacidade da Igreja em colocá-las no centro de suas preocupações, assegurando-lhes minhas orações. Rezo e todos nós rezamos juntos: "A ti, Senhor, a glória, a nós a vergonha": este é o momento da vergonha — disse o pontífice após a Audiência Geral desta quarta-feira.

Em seguida, Francisco exortou bispos, religiosos e fiéis a se esforçarem para que situações semelhantes não se repitam.

— Encorajo os bispos e vocês, queridos irmãos que vieram aqui para compartilhar este momento, encorajo os bispos e superiores religiosos a continuarem fazendo todos os esforços para garantir que dramas semelhantes não se repitam. Expresso aos sacerdotes da França proximidade e apoio paternal diante desta provação, que é dura, mas saudável, e convido os católicos franceses a assumirem suas responsabilidades para garantir que a Igreja seja uma casa segura para todos — ressaltou.

3 mil abusadores

O documento de 2.500 páginas foi entregue nesta terça-feira pelo presidente da comissão, Jean-Marc Sauvé, ao chefe da Conferência dos Bispos da França (CEF, na sigla em francês), Eric de Moulins-Beaufort. De acordo com as descobertas, a Igreja mostrou "por anos, indiferença profunda, total e até cruel", protegendo-se ao invés ajudar as vítimas, em sua maioria meninos entre 10 e 13 anos.

O número total de menores abusados pode chegar a 330 mil, constatou o relatório, se consideradas também vítimas de pessoas na esfera da Igreja, mas que não compõem seu corpo eclesiástico, como catequistas, professores de escolas religiosas e supervisores de movimentos jovens.

Estima-se que o total de abusadores fique entre 2,9 mil e 3,2 mil — dois terços deles, padres. Entre as vítimas, 80% eram meninos. Na maioria dos casos, os atos estão prescritos e os autores dos abusos já morreram, mas o relatório aponta 22 supostos crimes que ainda podem ser investigados. Todos foram encaminhados ao Ministério Público. Outros 40 casos muito antigos para serem processados, mas que envolvem pessoas que ainda estão vivas, foram encaminhados aos dirigentes da Igreja.

Fonte: O Globo e agências internacionais