Pandemia 'derruba' fundos baseados em inteligência artificial
Diferentemente dos dias atuais — onde o cenário econômico parece se descolar da política e do coronavírus —, o mercado de capitais apresentou forte volatilidade em março: enquanto a Dow Jones caiu quase 13% em um único dia, o Ibovespa teve seu pior mês desde 1998. Dentre os diversos investimentos que sofreram grandes perdas, as operações quantitativas tiveram destaque negativo durante a pandemia e seus algoritmos matemáticos (incluindo inteligência artificial) foram colocados em xeque.
Os fundos quantitativos fazem o uso da tecnologia como estratégia. A inteligência artificial prevê oscilações de ativos do mercado e determina o que se deve comprar ou vender. Mesmo dispondo de tecnologia de ponta, as operações não se adaptaram à chegada da Covid-19.
Alguns fundos da Bridgewater Associates apresentavam queda de 21% até março. Outro fundo administrado pela D. E. Shaw, caiu 9% até o dia 24 do mesmo mês. A empresa de operações quantitativas Renaissance Technologies também afirmou que seus algoritmos falharam em resposta à volatilidade do mercado.
As perdas apontaram uma limitação da inteligência aritifical usada para definir padrões do mercado financeiro. Os dados — que alimentam esses fundos de hedge — foram "confundidos" pelas oscilações e pelo pânico dos investidores, já que não contabilizam tantos casos de crise em suas tecnologias. Ernie Chan, gerente da QTS Capital Management lembra que grandes turbulências globais são raríssimas, e não podem ser usadas como base pela machine learning.
Andrew Lo, professor do MIT e presidente do AlphaSimplex, compara as perdas das empresas quantitativas, com as quedas vistas na crise global de anos atrás. "O que vimos em março de 2020 não é diferente do que aconteceu em 2007, exceto que foi mais rápido, mais profundo e muito mais difundido", conta Lo.
Em entrevista, Zura Kakushadze, presidente da Quantigic Solutions, reforçou a tese de que nem a IA pode salvar investidores diante de uma volatilidade como a observada na pandemia do coronavírus. "Não me importo se você está utilizando inteligência artificial, machine learning ou qualquer outra coisa. Você vai quebrar, independente de tudo", afirmou.
Casos isolados
Ainda assim, foi possível observar alguns fundos que tiveram resultados positivos diante da pandemia. O Medallion, por exemplo, apresentou crescimento de 9% em março e registra ganhos de 24% até o momento. O Brasil ainda apresenta pouca exploração do modelo de investimento. No entanto, o fundo quantitativo Seival FGS Agressivo, que realiza aplicações em índices de ações, moedas, commodities e taxas de juros, registrou ganhos de 29% entre fevereiro e março.
Fonte: Wired