Opinião: não dá mais para o São Paulo se contentar só com vagas na Libertadores da América
O São Paulo garantiu a vaga na fase de grupos da Libertadores deste ano, nesta quinta-feira, após vencer o Flamengo por 2 a 1, pela última rodada do Campeonato Brasileiro. A conquista poderia até ser comemorada, mas o sentimento foi um misto de frustração e alívio.
Frustração por ver o Flamengo, do ídolo Rogério Ceni, levantar o troféu de campeão brasileiro no Morumbi. Um título que por muito tempo teve o próprio São Paulo como favorito. E alívio por não vivenciar um novo vexame na temporada e ter que disputar novamente a fase prévia da Libertadores.
Até o final de 2020, o torcedor são-paulino sonhava com esta semana decisiva de Brasileirão. No final de dezembro, o Tricolor era líder isolado do torneio com sete pontos na frente e considerado por muitos o time com o melhor futebol do Brasil.
No imaginário do torcedor, levantar a taça contra o Ceni, no estádio em que ele fez história como jogador, seria a coroação de uma temporada em que a equipe sofreu com altos e baixos e com um orçamento totalmente comprometido.
Mas a realidade é que agora o São Paulo passou mais uma temporada sem títulos, viu o ídolo Rogério Ceni levantar o troféu e teve que se contentar apenas com a classificação à Libertadores.
Tudo isso é muito pouco e até certo ponto constrangedor para o clube tricampeão Mundial e que enfileirou conquistas de 2005 e 2008.
Comemorar classificações à Libertadores se tornou rotina para o Tricolor. E isso tem que acabar.
Em 2018, por exemplo, o cenário foi parecido ao vivido atualmente. Com Diego Aguirre no comando, o São Paulo foi campeão do primeiro turno do Brasileirão e despontava como o favorito ao título.
Durante o segundo turno, porém, o time caiu de rendimento, Aguirre foi demitido e, sob o comando do interino André Jardine, a equipe "conquistou" a quinta colocação no Brasileirão e a vaga na fase prévia do torneio continental. Caiu para o Talleres meses depois em um dos capítulos mais vexatórios do clube.
Em 2019, o São Paulo não brigou pelo título (ficou bem longe disso, aliás), mas outra vez teve que se contentar com uma vaga na Libertadores na quinta posição, conquistada na penúltima rodada, em um Morumbi praticamente lotado. Mas dessa vez, a vaga foi na fase de grupos, já que o Flamengo ganhou a Libertadores e o Brasileirão, abrindo mais uma vaga.
Só que não dá mais para o São Paulo viver dessas pequenas celebrações dentro do Campeonato Brasileiro. Enquanto o clube só garante seu passaporte para o torneio da América do Sul, os rivais vão empilhando taças, e a pressão no clube aumenta.
Hernán Crespo será o novo responsável por tentar acabar com o jejum de títulos e de resgatar a identidade vencedora do clube que se perdeu nos últimos anos. A última conquista foi a Copa Sul-Americana de 2012.
A missão, porém, não será das mais fáceis. A começar pelo dinheiro que o treinador terá em caixa para pedir reforços. Em crise financeira que beira uma dívida de quase R$ 600 milhões, o São Paulo não tem margem para grandes contratações. Crespo já está ciente e busca nomes dentro do orçamento.
O segundo ponto e não menos importante é a grande pressão externa que se instalou no Morumbi nos últimos anos. A seca de títulos fez os protestos da torcida aumentarem e se tornarem cada vez mais violentos. No último episódio de vandalismo, por exemplo, o ônibus da delegação foi apedrejado em uma emboscada.
Para deixar para trás todo esses problemas, o São Paulo aposta em uma nova filosofia nos bastidores, com a mudança de toda a diretoria de futebol, o resgate de outros ídolos, como Muricy Ramalho e Kaká, e a tentativa de uma comissão técnica estrangeira.
A temporada de 2021 do São Paulo, com Crespo no comando, começa no próximo domingo, no início do Campeonato Paulista, diante do Botafogo-SP, no Morumbi. O argentino pode pegar um time empolgado pela vitória sobre o Flamengo, mas que mostrou não ser confiável nem mesmo depois de conseguir uma vitória heroica.
Fonte: Eduardo Rodrigues/Globoesporte.com