Opinião: erro de Tiago Volpi decreta fim melancólico para temporada ilusória do São Paulo

Opinião: erro de Tiago Volpi decreta fim melancólico para temporada ilusória do São Paulo
Luciano comemora o gol que evitou um tropeço depois da falha de Volpi — Foto: Marcos Ribolli

O erro injustificável de Tiago Volpi no fim do jogo contra o Ceará, na última quarta-feira, decretou o fim melancólico de uma temporada em que o São Paulo viveu a ilusão de que poderia, enfim, encerrar o jejum de títulos que já dura oito anos.

Não poderia ser mais simbólico: no primeiro jogo sem o técnico Fernando Diniz, demitido há 10 dias, a falha de Volpi se deu ao tentar sair jogando na defesa – uma marca do treinador que estava no banco quando o São Paulo liderou o Brasileiro com sete pontos de vantagem, um mês atrás, e parecia que a conquista era inescapável. Pois escapou.

Como escapou de Volpi a bola perdida para Léo Chú, já nos acréscimos de um jogo até então sem gols. Luciano empataria pouco depois, mas tanto faz.

O título era uma miragem. Que ganhou a força dos otimistas antes do jogo contra o Ceará por causa da derrota do Internacional para o Sport – um resultado que poderia recolocar o São Paulo na briga a hipotéticos dois pontos dos gaúchos, viesse a vitória contra os cearenses e no jogo a menos que os paulistas ainda têm a fazer, um clássico contra o Palmeiras, marcado para o dia 19.

A realidade estapeou os que ainda acreditavam.

O São Paulo amassou o Ceará e parou na ótima atuação do goleiro Richard, que defendeu uma bola atrás da outra no primeiro tempo – com Pablo como titular, já que Brenner, artilheiro do time na temporada e revelação do time, foi vendido há uma semana para uma equipe dos EUA.

A negociação que colocou Brenner no FC Cincinatti, o pior time da MLS em 2020, é o São Paulo real: entre a chance de um título improvável, mas possível, e R$ 80 milhões por um jovem de 22 anos, fica-se com o dinheiro.

Um movimento compreensível dada a crítica situação financeira do clube, ainda que seja difícil cobrar compreensão de quem há anos sofre com vexames enquanto vê rivais alcançarem algumas de suas maiores glórias.

Não foi por acaso que o São Paulo liderou o Brasileiro. O time, por um período entre novembro e dezembro, se descolou. Com um elenco limitado, mas 11 bons titulares, conseguiu controlar problemas como lesões, suspensões e se manteve distante de surtos de Covid-19. Enfileirou vitórias e ganhou confiança.

Criou-se uma grande expectativa sobre um time que já tinha avisado antes que era melhor que dele não se esperasse tanto – seja no Paulista, na eliminação para o Mirassol, na Libertadores, quando o time não conseguiu sequer avançar aos mata-matas, ou na Sul-Americana, em que não resistiu ao Lanús.

Foi justamente a queda menos traumática, para o Grêmio, nas semifinais da Copa do Brasil, o início do derretimento do time. O São Paulo perdeu a alma, perdeu, perdeu e perdeu. São sete jogos sem vencer no Brasileiro, um deles a humilhante goleada sofrida para o Internacional em casa, o 5 a 1 que tirou a equipe da ponta.

Acabou 2020 para o São Paulo.

A nova temporada começará assim que Hernán Crespo, provavelmente, for anunciado como novo técnico da equipe, o que deve acontecer ainda nas rodadas finais do Brasileiro. O horizonte é nebuloso.

Há muito pouco dinheiro, e mesmo a venda de Brenner deve dar pouco respiro ao clube – os R$ 80 milhões representam apenas 46% da meta estabelecida no orçamento para negócios do tipo neste ano.

Em março, segundo o mesmo orçamento, o clube começa a pagar uma dívida de R$ 14 milhões que tem com o elenco por descontos feitos nos salários dos atletas em parte do ano passado por causa da pandemia.

Imagina-se que Crespo saiba o tamanho da missão que aceitou. Terá que devolver orgulho a um dos maiores clubes do continente, com poucos recursos e nenhuma paciência. Que não se iluda.

Fonte: Globoesporte.com