Monique fez tatuagem cobrindo nome de ex-marido no dia em que exigiu dinheiro a Jairinho para não denunciá-lo
RIO — Na manhã de 3 de fevereiro, três horas após a babá de Henry Borel Medeiros, de 4 anos, contar a seu pai, por mensagens, que sua patroa, Monique Medeiros da Costa e Silva estava se separando do namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), a professora registrou em foto a cicatrização de uma tatuagem que havia feito para cobrir o nome do ex-marido, Leniel Borel de Almeida. Naquele dia, após ser agredida pelo parlamentar, ela arrumou suas malas para ele deixar o imóvel com a condição de que ficasse “pagando as coisas dela”, senão iria “f… ele”.
Fotos recuperadas pela Polícia Civil do Rio no celular de Monique, que constam no inquérito que apura a morte de Henry, na madrugada de 8 de março, e que foram obtidas com exclusividade pelo GLOBO, mostram o desenho, feito na noite de 2 de fevereiro pelo tatuador de Jairinho, em um estúdio no Barra Shopping. Em um storie postado por ela em seu Instagram, a professora abriu uma caixa com a pergunta: “Será que cobre?”
Já na manhã seguinte, ela escreveu, na mesma rede social: “Está no plástico, mas foi a cobertura de um nome” junto a uma foto da tatuagem nova. Dois dias depois, outra foto no celular de Monique indica nove contas a pagar, entre “futebol no campinho”, “uniforme”, “academia”, “telefone”, uma cama que fora comprada de presente para a babá e a tatuagem, que custou R$ 1.200.
Na conversa de Thayna com o pai, com início às 20h22 e término nove minutos depois, no dia 3, a funcionária narra ter chegado para trabalhar no apartamento 203 do bloco I do Condomínio Majestic, no Cidade Jardim, onde viviam Monique, Jairinho e Henry, quando a família ainda dormia. Com a ausência da empregada Leila Rosângela de Souza Mattos, a jovem diz ter ficado lavando louça — pratos de comida, talheres e copos. “Geralmente tem gin, vinho, uísque. Mas dessa vez não tinha nada. Então, quer dizer, nem bêbado estava”, escreve.
Após ser perguntada se “Jairinho e Monique estão bem ou se deu merda”, a babá responde: “Vão se separar”. “As malas dele estão lá. Já para ele pegar.” Então o pai diz: “Amanhã tudo volta pro lugar. São doidos.” E Thayna continua: “Ele bateu nela. Enforcou. E aí ela disse que ele vai sair. Mas que vai ficar pagando as coisas dela. Se não ela vai f… ele. Aí ele está com o rabo entre as pernas. E disse que tá. Aí passou o dia todo ligando pra ela. Conversando. Chamando de amor. Como se nada tivesse acontecido. E ela falando que ela não esqueceu não. Que foi a segunda vez que ele fez. A casa tá com as paredes toda suja. Ele quebrou as malas dela. Ele chutava tudo que ela dizia”
O pai responde: “Amanhã ela volta. Chora”. E a babá finaliza: “Mas ela disse que não quer ouvir ninguém. Que está de saco cheio”.
Foi Thayna quem narrou em tempo real as agressões de Jairinho contra Henry às 16h do dia 12 de fevereiro. Através do mesmo aplicativo de mensagens, ela contou a Monique que o seu namorado estava com o menino no quarto, de onde ele saiu minutos depois mancando, com hematomas nas pernas e braços, dores na cabeça e dizendo haver levado “chutes e bandas” do vereador. Em uma chamada de vídeo, a criança contou que “o tio brigava” ou “o tio batia” e pediu que ela voltasse pra casa. A professora, que estava no salão de beleza, chegou na residência por volta de 19h.
Monique e Jairinho foram indiciados pelo delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), nesta segunda-feira, dia 3, por homicídio duplamente qualificado, por emprego de tortura e impossibilidade de defesa de Henry. O vereador foi indiciado ainda duas vezes pelo crime de tortura contra o menino e a professora uma vez pela na modalidade omissiva pelo mesmo delito. A conversão da prisão temporária do casal em preventiva também foi pedida.
Fonte: Paolla Serra/O Globo