Empresário corintiano que matou esposa palmeirense a facadas após discussão por jogo de futebol passa por nova audiência

Empresário corintiano que matou esposa palmeirense a facadas após discussão por jogo de futebol passa por nova audiência
Erica Ceschini posa com bandeira do Palmeiras após conquista do título da Libertadores em 2021. Ao lado está o marido dela, o corintiano Lenardo Ceschini. O homem é acusado de matar a mulher a facadas após discussão por causa de futebol em São Paulo — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A Justiça de São Paulo marcou para as 13h30 desta quarta-feira (1º) a segunda audiência do empresário corintiano acusado de matar a esposa palmeirense a facadas após uma discussão por causa de um jogo de futebol em 2021. Ela ocorrerá no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da capital.

O empresário Leonardo Souza Ceschini, de 34 anos, matou a representante comercial Érica Fernandes Alves Ceschini, também de 34 anos, em 31 de janeiro daquele ano. Ele responde em liberdade ao crime de homicídio doloso qualificado por feminicídio, motivo fútil e meio cruel cometidos na frente de seus filhos.

Esta etapa do processo, chamada de audiência de instrução, deveria ter começado em 22 de novembro de 2021, mas foi suspensa à época por determinação da Justiça. A juíza Marcela Raia de Sant'Anna, 5ª Vara do Júri, atendeu pedido do Ministério Público (MP) e adiou a audiência para que fosse realizado um laudo psicológico nos filhos gêmeos do casal.

A primeira audiência ocorreu em 1º de março de 2023, já com o resultado do exame das crianças. O laudo indicou a possibilidade de os garotos terem visto o crime. Elas estavam no apartamento em que os pais moravam no momento do homicídio. Tinham cerca de 2 anos naquela ocasião.

A audiência de instrução serve para a Justiça decidir depois se há indícios de crime para levar o réu a julgamento popular.

Na primeira audiência, foram ouvidas testemunhas do caso. Nessa segunda audiência, mais duas testemunhas (o policial militar que atendeu a ocorrência e um parente do réu) darão seus depoimentos. Se for possível e houver tempo, o acusado será interrogado depois.

"Vai ser a audiência em continuação, agora dia 5, e a expectativa nossa é que a gente consiga, além dessas duas testemunhas, já dar início ao interrogatório do réu para que a marcha processual siga e ele seja pronunciado e enfrente o tribunal popular", disse o advogado Epaminondas Gomes de Farias ao g1.

Ele defende os interesses da família de Érica e atua como assistente de acusação do MP. O promotor Rogério Leão Zagallo, disse que o casal tinha "uma relação meio conturbada e que estaria se complicando com a pandemia".

Leonardo é torcedor do Corinthians. Érica torcia pelo Palmeiras. O marido confessou o assassinato dizendo que os dois tinham discutido no dia seguinte à final da Copa Libertadores, em 30 de janeiro de 2021, na qual o Palmeiras foi campeão ao vencer o Santos por 1 a 0, no Rio. E que ele a matou para se defender dela.

Vizinhos do casal acionaram a Polícia Militar (PM) depois de escutarem gritos no apartamento em que moravam com os gêmeos, no bairro São Domingos, Zona Norte da cidade. As crianças estavam no imóvel, segundo a acusação.

Érica foi encontrada ensanguentada e morta, caída no chão da cozinha. O marido também estava ferido. Após dar uma versão de que a esposa o tinha esfaqueado e cometido suicídio, Leonardo confessou o crime.

Ele falou que os dois tinham "desavenças devido cada um ser torcedor de time de futebol diferente". E que a mulher o cortou com a faca, mas ele conseguiu pegá-la e a esfaqueou de volta, com "vários golpes que causaram a morte dela". A faca foi apreendida.

Réu solto

Atualmente, Leonardo responde em liberdade pelo assassinato de Érica. O empresário chegou a ser preso em flagrante pela PM, mas foi solto em fevereiro de 2021 por decisão judicial. A alegação foi a de que o Ministério Público demorou para se manifestar sobre o caso.

Em julho de 2021, o MP denunciou Leonardo pelo assassinato. Naquele mesmo mês, a Justiça aceitou a denúncia contra o acusado, tornando-o réu no processo.

Quem é acusado por crimes dolosos contra a vida pode ser levado a julgamento popular, no qual sete jurados decidem se a pessoa deve ser condenada ou absolvida, cabendo ao juiz a aplicação da pena ou da sentença. Havendo condenação, a pena para assassinato pode chegar a 30 anos de prisão.

Para o Ministério Público, "é certo que o denunciado agiu valendo-se de motivo fútil, qual seja, simples discussão familiar fomentada por rixa esportiva. O crime também foi perpetrado com emprego de meio cruel, visto ter sido a vítima atingida por diversas facadas, suportando sofrimento atroz e desnecessário".

Furto, filhos e família

A Polícia Civil investiga ainda se, após o assassinato, o sogro de Érica furtou do apartamento em que ela morava com Leonardo: o carro dela, duas TVs, um micro-ondas, eletroeletrônicos e joias. O furto teria sido cometido enquanto o corpo da representante comercial era velado e sepultado, em 1º de fevereiro. A família da vítima gravou um vídeo para denunciar o furto.

A guarda dos filhos está com os avós maternos das crianças.

Aline Rodrigues Fernandes Alves de Oliveira, irmã de Érica, falou ao g1 que deseja que Leonardo seja julgado rapidamente. "Queremos justiça", disse.

Na opinião do advogado Epaminondas, foi importante a denúncia contra Leonardo por feminicídio, que é o crime cometido contra uma mulher pela sua condição de gênero.
"Existe algo mais por trás dessa morte", disse o advogado dos familiares da vítima. "Para a família, a verdadeira motivação nunca teria sido jogo de futebol." Entre os outros motivos possíveis estariam: problemas envolvendo o relacionamento de Érica com os parentes de Leonardo e questões financeiras, já que ela seria a principal provedora do lar do casal.

Sobre a audiência de instrução do caso, Epaminondas falou que a expectativa dele e da família é a de que Leonardo seja levado a júri popular.

"O resultado que nós aguardamos é a pronúncia [submetê-lo a julgamento]. Depois esperamos a condenação", falou o advogado.

A defesa de Leonardo não foi encontrada para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem.

Fonte: Kleber Tomaz, g1 SP — São Paulo