Em sabatina, Haddad afirma que Tarcísio é joguete de Bolsonaro e critica condução do caso Roberto Jefferson
O candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira que seu adversário, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é 'joguete' do presidente Jair Bolsonaro (PL) e também criticou a condução do caso Roberto Jefferson (PTB). Faltando seis dias para o segundo turno, o petista participou de sabatina do GLOBO, Valor e CBN. Tarcísio foi convidado para participar de um debate, mas recusou.
Ex-prefeito da capital paulista e ex-ministro da Educação, Haddad disse que Tarcísio não tem autonomia e obedece ordens "do Palácio do Planalto". O candidato do Republicanos foi ministro da Infraestrutura de Bolsonaro e faz palanque para o presidente em São Paulo.
— Ele é um joguete do presidente. Vai fazer o que Bolsonaro mandar (...) Ele queria ser candidato a governador de Goiás. De repente aluga casa do cunhado, simula uma locação e vira candidato a governador — declarou o petista.
Haddad disse ter esperança de vencer o segundo turno, mesmo atrás de Tarcísio. O candidato do PT teve 36% dos votos válidos no primeiro turno, contra 42% do quadro do Republicanos. No último levantamento do Instituto Datafolha, divulgado na quarta-feira (19), 49% dos entrevistados disseram que pretendem votar em Tarcísio no domingo (30), ante 40% em Haddad.
— Estamos muito perto de virar essa eleição. E eu quero fazer uma aliança com o centro, isolando o centrão — afirmou, acrescentando que o centrão dos partidos "Republicanos, do Edir Macedo, PL, do Valdemar Costa Neto, e PP, do Ciro Nogueira" sempre foi "coadjuvante", mas que hoje está "comandando" e "destruindo o país".
O ex-prefeito afirmou que uma parte do eleitorado está "votando cegamente no Tarcísio" por causa da polarização nacional entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que disputam o segundo turno pela Presidência da República.
Nas críticas ao adversário, Haddad insistiu que "ninguém conhece o Tarcísio". Disse, ainda, que o bolsonarista tem apenas "três propostas" para São Paulo: desobrigar a vacina, tirar câmera do uniforme de policiais e privatizar a Sabesp.
Roberto Jefferson
Haddad afirmou que o ataque do ex-deputado federal Roberto Jefferson a policiais no domingo foi "planejado" e uma "tentativa de desviar atenção" de Bolsonaro, então aliado de Jefferson. O ex-deputado federal foi preso pela Polícia Federal, após atacar com pelo menos 20 tiros de fuzil e duas granadas agentes da corporação. Os policiais foram à casa de Jefferson cumprir um mandado de prisão, expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas o político reagiu e deixou uma agente e um delegado feridos.
— Bolsonaro vive de crise, não vive de governar. E ele depende deste tipo de evento para sobreviver politicamente. Toda semana acontece alguma coisa inusitada — disse Haddad.
Foram cerca de 14 horas de cerco no entorno da casa do político, até ele se render. Bolsonaro chegou a escalar o ministro da Justiça, Anderson Torres, para atuar diretamente no episódio e tentar negociar com Jefferson, o que Haddad criticou:
— Como o sujeito (Bolsonaro) manda o ministro da Justiça fazer uma mediação? Quem é o Roberto Jefferson para ter o ministro da Justiça à sua disposição? — questionou.
Rodrigo Garcia
Haddad criticou ainda o jantar promovido pelo governador Rodrigo Garcia (PSDB) a Bolsonaro e Tarcísio na semana passada, no Palácio dos Bandeirantes, na sede do governo paulista:
— Nunca vi estender tapete vermelho para Bolsonaro, é um suicídio político (...) Eu lamento muito a reedição do BolsoDoria.
Garcia, que foi derrotado na tentativa de reeleição, declarou apoio aos bolsonaristas logo após o primeiro turno. Haddad afirmou que preferia ter ido com o tucano para o segundo turno. Mas que, segundo ele, o objetivo das campanhas de Garcia e Tarcísio era tirá-lo da disputa, o que, diz Haddad, "seria trágico, inclusive para a campanha nacional". Ele disse que passou a direcionar os seus ataques no candidato do PSDB para se defender da ofensiva tucana.
— No meu entorno, 70% preferia ir com o Tarcísio para o segundo turno. Eu era do time que queria ir com o Rodrigo para o segundo turno. Eu dizia isso para a minha equipe. (Defende isso) porque o Brasil está em jogo. Você fazer uma disputa com o Rodrigo, e ele se manter equidistante do Lula e do Bolsonaro, não entrar na briga nacional, era melhor para o cenário nacional, do meu ponto de vista — disse o ex-prefeito.
PT
Haddad admitiu que existe uma dificuldade do PT em conseguir votos no interior. Ele afirmou que a aliança de Lula com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa petista à Presidência, teve o objetivo de sinalizar a esse segmento da população. Disse que "o Brasil precisava deste gesto nacional e local", referindo-se também a São Paulo. Mas ponderou ser difícil mensurar se Alckmin teve sucesso em ajudá-lo a conseguir votos no interior para a eleição estadual.
O petista comemorou que essa é a primeira eleição em São Paulo que o PT tem um candidato competitivo no segundo turno:
— Em 40 anos, nós participamos de 11 eleições com candidato próprio. E é apenas a segunda vez que nós vamos para o segundo turno. E a primeira que a gente vai para o segundo turno competitivo. Em 2002 não estávamos competitivos, mesmo com Lula tendo ganhado em São Paulo.
Guedes e economia
Haddad chamou de "ridícula" a crença do agronegócio de que haveria mais investimentos no campo com Tarcísio do que com o petista.
— Essa tese sobre o Tarcísio é ridícula. O Tarcísio colocou o estado de São Paulo no último lugar (quando era ministro da Infraestrutura). É o estado que mais produz produtos agrícolas e o Tarcísio não fez absolutamente nada para ajudar São Paulo — declarou.
Haddad disse não ser contra a privatização das balsas de Santos e que é necessário fazer algo para modernizá-las. Ele também criticou o ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes:
— O Guedes não tem compromisso com nada a não ser o poder. O Guedes não segue critério nenhum, a não ser de angariar votos para o bolsonarismo. É uma loucura o que está acontecendo na economia. O Guedes está cavando um rombo fiscal que eu não sei como vai ser resolvido.
Tiros em Paraisópolis
Haddad criticou que nenhuma imagem do incidente em Paraisópolis tenha sido divulgada para esclarecer o que aconteceu. Na semana passada, tiros próximos a um evento de Tarcísio interromperam o compromisso de campanha na favela. Tarcísio chegou a chamar o caso de atentado, hipótese depois descartada pela polícia.
— Eu não tenho Polícia Militar à disposição como ele tem. Por que ele tem um tratamento e eu tenho outro? — questionou — Acho estranho não aparecer uma imagem do episódio. Se os policiais estavam com câmera na farda, por que essas imagens não foram divulgadas? Um governador tem que ter transparência — completou, em referência a Rodrigo Garcia.
Transporte gratuito
O ex-prefeito também saiu contra o atual mandatário da Prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), por não liberar o transporte público gratuito no dia da eleição. Ele chamou a resistência do prefeito, que apoia Bolsonaro, de "ideológica".
— Eleição é um dia a cada dois anos. É baixíssima a demanda por transporte público no domingo. A perda de arrecadação é mínima. Eu não vejo razão para recusar. Essa resistência do Ricardo Nunes me parece mais ideológica do que pragmática. Pragmaticamente falando, é um benefício de fortalecimento da democracia — argumentou o petista.
Aliados de Lula tem defendido o transporte gratuito para evitar a abstenção entre os eleitores mais pobres, principal base do petista. Bolsonaristas também entraram nesta ofensiva defendendo a gratuidade em cidades do interior, onde o presidente tem mais força. Haddad disse que "não é a conta de quem você vai favorecer" que deve ser feita. Segundo ele, "ou você defende um princípio, ou não defende". O ex-prefeito é a favor do transporte grátis em todas as cidades.
Fonte: O Globo