Educadora constrói casa com garrafas de vidro, em Foz do Iguaçu: 'Além de tirar do meio ambiente, vou ter meu cantinho'

Educadora constrói casa com garrafas de vidro, em Foz do Iguaçu: 'Além de tirar do meio ambiente, vou ter meu cantinho'
Dóris teve a ideia de construir uma casa com garrafas de vidro para economizar com tijolos, em Foz do Iguaçu — Foto: Arquivo pessoal

O que podia ir para o lixo ou parar no meio ambiente, tornou-se a principal matéria-prima para Dóris Dias realizar o sonho da casa própria, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Com mais de 10 mil garrafas recicladas, a "casa de vidro" da educadora social tomou forma e está na reta final da construção, na Vila C.

"A maioria dos brasileiros não tem condição de ter a casa própria. É muito difícil conseguir uma casinha. Esse é um sonho meu. Antes eu pensava que de jeito nenhum ia conseguir, mas agora vejo que está cada vez mais perto. Além de tirar as garrafas do meio ambiente, ainda vou ter meu cantinho. Não vejo a hora", contou.

Depois de casar e ganhar parte do terreno dos pais, Dóris fez orçamentos para construir uma casa convencional. Os materiais tradicionais, como madeira e tijolos, afastaram o sonho da iguaçuense, que não tinha condições de arcar com a obra.

Tudo mudou quando a educadora conheceu projetos sustentáveis com casas de garrafas PET e de vidro, em diferentes lugares do mundo, inclusive, no Brasil.

De acordo com Dóris, a ideia da casa de garrafas surgiu depois de fazer a festa de casamento dela, em setembro de 2019, usando materiais recicláveis.

Com doações da comunidade e buscando a matéria-prima pelas ruas de Foz do Iguaçu, ela e o marido, Robson Lopes, juntaram milhares de garrafas e começaram a construção em abril deste ano.

"Procurei as garrafas em bueiros, nas ruas e fiquei impressionada com o tanto que encontrei. As pessoas não pensam em aproveitar nada. No Brasil não se pensa muito na sustentabilidade. Vi casas com garrafas na Bolívia, Tailândia e outros lugares", afirmou.

Doações

Por enquanto, o casal mora com os pais de Dóris. Por isso, o novo lugar é tão importante. A educadora está afastada do trabalho por problemas de saúde e ainda não está recebendo do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O marido, que trabalhava como repositor em um supermercado, está desempregado.

Para conseguir terminar a casa, eles estão com uma campanha online para arrecadação de fundos. Além disso, pedem doações de materiais como como janelas, portas e fios elétricos.

O espaço tem cerca de 70 metros quadrados e está sendo construído pelo marido. A sustentação da estrutura foi feita com ferro, as paredes com garrafas de 600 ml e cimento, segundo a educadora. Até o momento, o casal gastou pouco mais de R$ 3 mil.

Enquanto a casa não fica pronta, as roupas e os objetos do casal ficam em um contêiner alugado, do lado de fora da casa dos pais dela.

Os dois deixaram a residência onde moravam por não ter mais condições de pagar aluguel. Os móveis que tinham lá, foram levados para o terreno dos pais de Dóris, mas com a exposição na chuva e sol, acabaram perdendo tudo, segundo ela.

Construção

Dóris explicou que a construção não está regularizada, pois não teve recursos para contratar profissionais. Entretanto, destacou que buscará regularizar a casa assim que for possível financeiramente.

De acordo com a Secretaria de Planejamento e Captação de Recursos, a obra pode ser regularizada pela prefeitura até dois anos após a conclusão.

Nos casos de imóveis irregulares, segundo a secretaria, o proprietário deve providenciar o projeto da obra, a documentação de posse do imóvel, os documentos pessoais e protocolar o pedido de regularização na prefeitura.

Se houver dúvidas sobre reformas e construções, o município ressalta que o morador deve buscar orientações na secretaria para evitar transtornos futuros com a regularização.

Conforme o secretário de Planejamento, Edinardo Aguiar, o material utilizado para a construção, como as garrafas de vidro, não é analisado no momento de regularização de um projeto, mas o proprietário deve avaliar se esse tipo de material não oferece nenhum risco aos moradores.

"A segurança vem acima de tudo. Além disso, as regras urbanísticas servem para estabelecer um padrão construtivo, para que a cidade seja bem ordenada. Quando as construções seguem os padrões, como respeitar a largura da via e da calçada, evitamos transtornos depois em toda a rede de infraestrutura", explicou.

Fonte: Mari Kateivas, G1 PR — Foz do Iguaçu