Análise: sequência espetacular do Fluminense ofusca críticas à falta de criatividade no meio de campo
"Você ganhar 10 jogos consecutivos, se não estiver bom... Não sei quando vai estar bom". As palavras proferidas pelo técnico Abel Braga na coletiva de imprensa após a vitória do Fluminense sobre o Millonarios por 2 a 0, em São Januário, pelo joga da volta da segunda fase da Pré-Libertadores, descrevem bem um dilema cabível a qualquer um que tente analisar de alguma forma o início de temporada tricolor.
Como ser capaz de criticar ou apontar defeitos em um time que chegou ao décimo triunfo consecutivo, algo que o clube só fez uma vez na história em jogos oficiais, em 1919, há mais de 100 anos? Sendo que nessa sequência, três vitórias foram em clássicos, outras duas em uma disputa de pré-Libertadores, com direito a um jogo na altitude de quase 2.600m de Bogotá.
Chega a parecer covarde e até vazio tentar encontrar alguma ponderação. Os números, neste caso, realmente falam por si só. Isto não representa um título, mas o Fluminense de Abel Braga, neste momento, tem a melhor sequência do futebol brasileiro.
Por mais que seja cedo, a solidez defensiva, a capacidade de desmontar defesas adversárias em momentos chaves e até mesmo "a sorte que acompanha os campeões" parecem caminhar lado a lado com o Flu até aqui.
Porém, necessito correr o risco de parecer clichê, ao me apegar ao discurso batido de que "a vitória não diz que está tudo certo, assim como a derrota não diz que está tudo errado" para fazer a seguinte observação: é notório que a formação utilizada por Abel sem valorizar o setor criativo se desenha um teste cardíaco para o torcedor.
Quem assistiu ao primeiro tempo do Fluminense contra o Millonarios há de convir: o time mais uma vez pecou com a falta de criatividade do meio, que contou com uma noite nada inspirada de Yago Felipe até então e com poucas bolas aéreas vindas dos alas.
A função de ligar a defesa com o ataque, por incrível que pareça, de novo ficou direcionada aos zagueiros, que vêm se especializando em lançamentos longos, como aconteceu no segundo tempo e em diversos outros momentos da temporada.
Mas quem há de negar que vem dando certo?
No segundo tempo, mesmo sem mudanças, a equipe viveu um lampejo coletivo e encontrou o primeiro gol após encaixar a primeira boa articulação pelo lado direito do gramado.
Luiz Henrique achou belo passe para Calegari, que foi ao fundo e cruzou para um carrinho de Cano. A bola explodiu na zaga e sobrou limpa para Willian Bigode abrir o marcador.
O gol deu vida ao Fluminense, que até ali caminhava na linha tênue de se classificar com o empate ou se complicar com um possível gol adversário, que não apresentava volume de jogo, mas que poderia encontrar uma bola para levar a partida para os pênaltis.
Foi então que, respirando mais aliviado, Abel Braga atendeu aos pedidos das arquibancadas e mandou Arias para o jogo no lugar de Cano - com a mudança, Willian Bigode começou a jogar centralizado.
Em grande fase, o colombiano precisou de apenas um toque na bola para ser protagonista de um gol que representa uma aula completa de futebol - algo que o time não conseguiu realizar durante os 45 minutos iniciais contra o Millonarios, mas que demonstrou também no primeiro tempo contra o Vasco, atuando com um meio de campo reserva e criativo, no último sábado.
A jogada começa com Fábio, passa por Nino, chega a Luiz Henrique, que manda para Yago Felipe encontrar o Jhon Arias. Um a um, os jogadores de linha vão quebrando a marcação do Millonarios até o toque final para a rede.
Um gol que provavelmente deixa um gosto de "quero mais" nos adeptos do futebol bonito e envolvente. Que reforça outra vez a qualidade do elenco tricolor, que não necessariamente vai jogar pelo espetáculo com Abel Braga. Mas que segue pragmático quando o assunto é vencer.
"Não gosto de individualizar. Eu quero é continuar com essa invencibilidade, isso é que tá muito bom", Abel Braga na coletiva após a classificação.
Se isto com o tempo irá se mostrar uma areia movediça que enterra sonhos, não há como antecipar o futuro para saber. E que o futuro fique no futuro.
O que se tem conhecimento agora é que o Fluminense definitivamente vive grande fase sob o comando do treinador e segue ofuscando as críticas com uma grande sequência de resultados.
Afinal, ao colocar a cabeça no travesseiro para descansar após a classificação, o torcedor tricolor, certamente, não fechou os olhos pensando no setor criativo do time.
Esse torcedor, absolutamente, depois de muitos anos, adormeceu ciente que a possibilidade de viver o sonho é muito melhor do que só simplesmente sonhar.
Vivo na pré-Libertadores, o Fluminense aguarda agora o vencedor do confronto entre Atlético Nacional (Colômbia) e Olimpia (Paraguai). No jogo de ida, o time paraguaio venceu por 3 a 1 em Assunção.
No sábado, pelo Carioca, o Flu enfrenta o Resende no Raulino de Oliveira em um jogo em que pode garantir a conquista da Taça Guanabara por antecipação.
Fonte: Globoesporte.com