Saiba quais peixes podem causar a 'doença da urina preta'
A morte da veterinária pernambucana Cynthia Priscyla Andrade de Souza, de 31 anos, vítima da Síndrome de Haff, ou popularmente conhecida como "doença da urina preta", no dia 3 de março, acendeu o alerta essa semana para o consumo de determinados peixes e crustáceos nos quais pode ser encontrada a toxina que provoca a doença.
Até o momento, os casos que aconteceram no Brasil envolvem a ingestão das espécies tambaqui, olho de boi, badejo, pacu-manteiga, pirapitinga e arabaiana — este último o peixe ingerido pela veterinária. O pescado contaminado não apresenta odor ou gosto diferente do habitual, mesmo cozido, ele pode desencadear a síndrome. Pesquisas indicam que nem todo peixe das espécies citadas é responsável pela infecção, que é considerada rara.
Depois de notícias veiculadas a respeito da tilápia ser uma das responsáveis por eventuais casos da Síndrome de Haff em seres humanos, a Associação Brasileira da Piscicultura emitiu uma nota negando a possibilidade. “Tilápia não pode ser responsabilizada, nem ter sua imagem associada a eventuais casos da Síndrome de Haff (doença da urina negra) em seres humanos. Divulgações nesse sentido decorrem de desconhecimento e desinformação de alguns veículos de comunicação”, disse em nota.
O QUE É A SÍNDROME DE HAFF?
A causa específica da doença de Haff permanece desconhecida, e é uma enfermidade relativamente recente, descrita há menos de um século. Segundo artigo publicado por médicos pesquisadores do Hospital São Lucas Copacabana, da Universidade Federal Fluminense (UFF), a Síndrome de Haff é um tipo de rabdomiólise humana caracterizada pelo início repentino de rigidez muscular, ainda inexplicada, dentro de 24 horas após o consumo de certos tipos de peixes. De acordo com estudos divulgados, ela é provavelmente causada por uma toxina que ainda não foi identificada. Além disso, frequentemente ocorre como consequência o aparecimento de uma urina escura em função da insuficiência renal, razão pela qual essa o sintoma é utilizado para designar a doença.
Segundo os médicos, são necessários outros estudos para identificar a toxina envolvida e o mecanismo que induz à sua expressão, já que as espécies de peixes de água doce e crustáceos citados em todos os relatos são diariamente ingeridas por pessoas em todos os países em que foram descritos surtos, sem que ocorra o desenvolvimento da doença. Segundo o estudo da UFF, a doença de Haff e todos os casos de rabdomiólise devem ser tratados para prevenção de graves efeitos metabólicos e renais, que podem levar a insuficiência renal aguda, o que pode levar a morte.
Uma pesquisa da Fiocruz, intitulada Clinical and laboratory evidence of Haff disease – case series from an outbreak in Salvador, Brazil, December 2016 to April 2017, que estudou 15 casos ocorridos durante um surto da doença em Salvador, na Bahia, apontou que 14 pacientes tinham ingerido peixe cozido das espécies ‘Olho de Boi’, também conhecido como Arabaiana, ou ‘Badejo’.
Nos casos diagnosticados em Recife, o pescado “olho de boi” foi ingerido por duas pessoas, que adquiriram a doença, sendo que uma delas morreu no último dia 3 de março.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O nome “Síndrome de Haff" tem origem por conta da descoberta da doença ter sido em um lago chamado Frisches Haff, na região de Koningsberg em 1924. O território, à beira do Mar Báltico, pertencia à Alemanha, mas foi incorporado à Rússia posteriormente, constituindo um enclave entre a Polônia e a Lituânia.
Durante o século XX, foram registrados surtos pontuais pela Europa e nos Estados Unidos. Em outubro de 2008, foi relatado um surto de 27 casos de doença de Haff associada com o consumo de pacu-manteiga, tambaqui e pirapitinga, na região norte do Brasil.
O que todos tinham em comum? Os pacientes identificados consumiram vários tipos de peixes cozidos ou outros produtos aquáticos e até 24h após a ingestão apresentaram sintomas como a urina da cor de café, dores fortes abdominais, caracterizado por uma repentina rigidez muscular.
Fonte: F5News