Professor preso após ser reconhecido por foto é solto após provar inocência: Vida destruída
Por meio de uma foto, Cristian Moraes Ramos, de 40 anos, foi condenado a mais de oito anos de prisão em regime fechado. Morador de Guarujá, no litoral paulista, ele era suspeito de um roubo que aconteceu em Ubatuba, cidade que alega nunca ter visitado. Depois de anos tentando provar inocência e nove meses preso, ele foi absolvido do crime, solto e teve a chance de reencontrar os três filhos.
"Foi bem difícil porque eu sabia que era inocente, minha família também, mas fui difamado nas redes sociais. Foi difícil, mas Deus honrou e minha liberdade chegou", declarou Cristian em entrevista ao g1 neste sábado (25).
Professor de jiu jitsu, os problemas de Cristian começaram em 2003, quando ele estava em uma padaria em São Sebastião e a Polícia Civil chegou no local para apreender um veículo clonado de um comerciante. Ele era cliente, mas a equipe pediu habilitação, que ele não tinha, e documento da moto que estava vencido. Ele foi encaminhado para a delegacia, onde tiraram uma foto. Cristian foi liberado, mas graças a essa imagem foi reconhecido em crimes que não cometeu.
Ao longo dos anos, ele foi suspeito de quatro diferentes casos, mas foi condenado apenas em um, o único em que não teve a chance de fazer o reconhecimento pessoal. O crime aconteceu em 2005, quando houve um roubo em uma casa de veraneio em Ubatuba. Na ocasião, foram levados um carro e diversos objetos avaliados em mais de R$ 39 mil. As vítimas foram encaminhadas à delegacia, onde o reconheceram pela foto.
Cristian chegou a ser preso em 2009 e foi solto após um habeas corpus. Posteriormente, já condenado, a Justiça alegou que ele não foi encontrado no endereço da casa em que morava e passou a ser considerado foragido. O professor só descobriu isso ao ser parado em uma blitz em um bairro de Guarujá, em 2020.
"Fui preso na pior época, de pandemia. Foi muito difícil ficar sem ver meus filhos, que são tudo para mim. Eu tinha medo da pandemia, minha preocupação era com a minha família, ficava muito preocupado de perder alguém", declarou.
Neste momento, o advogado entrou com um pedido de revisão criminal. A defesa conseguiu um ofício que mostra que, nessa época, ele trabalhava na Prefeitura de Guarujá. Além disso, reiterou que a condenação se deu apenas pelo reconhecimento em foto. Com isso, na última semana, a Justiça acatou o pedido de revisão criminal e determinou pela absolvição do professor.
Na última terça-feira (21), ele conseguiu a soltura e saiu da Penitenciária I em São Vicente, onde estava detido. "Foi bem emocionante, comecei a chorar e fiquei ansioso para ver minha família, e ainda mais ao reencontrar meu três filhos depois de nove meses", conta.
O advogado de defesa de Cristian, Silvano José Almeida, reitera que tentou por anos insistir pelo reconhecimento presencial, o que nunca foi acatado. "Apesar de várias vezes pedido, foi negado e ele foi condenado somente com o reconhecimento em foto. Ele teve a vida destruída", lamentou o advogado. Após a absolvição, ele comemorou a saída e relata que espera que ele volte com os projetos sociais.
Por ser professor de artes marciais, ele conduzia projetos em comunidades da região. Algumas pessoas, ao descobrirem o que aconteceu, passaram a mostrar fotos dele o chamando de foragido, o difamando nas redes sociais. Ele conta que foi muito difícil passar por isso. Hoje, porém, após ter sido solto, ele conta que pretende focar ainda mais na iniciativa.
"Foram nas redes sociais para me difamar, falar que tinha um foragido dando aulas. Isso pesou porque sujou a minha imagem, o nome que eu tinha feito e a minha história. Eu lutei para tirar as crianças da rua e agora que quero ainda mais tirá-las, para não passarem pelo que eu passei", finaliza.
Secretaria de Segurança Pública
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP), informou que o caso foi investigado por meio de inquérito policial instaurado pela Delegacia de Ubatuba e relatado à Justiça. Diz que duas vítimas realizaram o reconhecimento do suspeito, que foi indiciado por roubo. Após a apreciação do Ministério Público e do Poder Judiciário, o inquérito não mais retornou à unidade para cumprimento de cota ou novas diligências.
Fonte: Leticia Gomes, G1 Santos