Preso que foi reconhecido por foto em roubo em que ladrões estavam mascarados é solto no RJ
Quase 210 dias ou sete meses. Foi esse o tempo que o mototaxista Marcos Antônio dos Santos Veiga, de 36 anos, ficou preso após ser acusado de ser um dos autores de um roubo a pedestre, em Niterói.
A agonia só teve fim na segunda-feira (15), após audiência na 4ª Vara Criminal de Niterói, em que a vítima não reconheceu Marcos Antônio e alegou que os ladrões estavam de capacete e máscara.
Ao G1, Marcos negou o crime e falou sobre a agonia da prisão.
O juiz João Guilherme Chaves Rosas Filho absolveu o acusado e expediu o alvará de soltura, que foi cumprido na quarta-feira (17).
“Você sabe o que é cumprir uma pena sem ter culpa? Todo dia eu acordava, olhava para o céu e perguntava: ‘Meu Deus, quando é que você vai me tirar daqui? ”, diz Marco.
Preso quando ia registrar uma ocorrência
O depoimento da vítima de roubo dizendo que os ladrões que a abordaram estavam de máscara e capacete já tinha sido dado durante o registro de ocorrência na 76ª DP. Mesmo assim a delegacia encaminhou a investigação por meio de um reconhecimento pelo álbum de fotografia da polícia.
“Minha foto estava lá porque eu tenho passagem na polícia. Fui pego por tráfico quando tinha 25 anos. Mas cumpri minha pena e saí pela porta da frente da cadeia. Desde então, só faço trabalhar e cuidar dos meus filhos”, diz ele que é pai de Antônia, de 4 anos, e Gael, de 3.
Marcos foi preso um dia antes do aniversário da filha, em agosto do ano passado, quando levava a mulher à delegacia para resolver uma ocorrência de estelionato.
“Minha mulher comprou um celular, que não entregaram. Ela registrou queixa e, quando o delegado ligou para ela, achamos que era para resolver isso. Fui com ela à delegacia e, ao chegar lá, recebi a voz de prisão”, lembra.
Foram sete meses perambulando pelo sistema carcerário do estado, enfrentando superlotação, medo de pegar Covid e, por vezes, comendo comida estragada. A situação só foi resolvida esta semana e, depois do abraço dos filhos, Marcos só pensa em seguir em frente.
“A preguiça reflete parte do sistema. Polícia investiga pouco, juiz prende, muitas vezes sem sequer ler o processo, e o Ministério Público contribui pouco com a investigação. A liberdade deveria ser regra e a prisão exceção, mas, como no caso do Marcos e de tantos outros, vemos a total inversão", diz advogado João Luiz Seabra Varella, que defendeu Marcos Antônio.
Medo de um novo engano
“Não tem revolta. Tem o sentimento de injustiça, mas quero seguir em frente. Quero arrumar um emprego, continuar cuidando dos meus filhos e viver a vida”, diz ele que, além do trabalho como mototaxista, trabalhava como entregador de pizza.
“Fui no meu antigo emprego, e disseram para eu ir lá conversar na próxima semana. Torcendo para ter algo para mim. Só não quero mais trabalhar como mototaxista, que é muito visado. Sempre acham que você é bandido”, diz .
Fonte: Eliane Santos, G1