Polícia investiga tortura de homem que criticou atos antidemocráticos em SC

Polícia investiga tortura de homem que criticou atos antidemocráticos em SC
Imagem ilustrativa

A Polícia Civil abriu inquérito para investigar bolsonaristas que aparecem em imagens que circulam em redes sociais obrigando um homem a participar dos atos golpistas no domingo (20), em Itapema, no Litoral Norte de Santa Catarina.

Segundo o advogado da vítima, ele criticou os atos, foi atraído a um endereço e ficou em poder do grupo por pelo menos 5 horas, sendo forçado a repetir frases de apoio, pisar em boné e levar bandeiras, entre outras agressões. A polícia trabalha com hipótese de tortura no caso.

O vídeo mostra o homem, de 41 anos, sendo forçado a usar um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), enquanto repetia frases ditadas pelo grupo. "Estou aqui me retratando, tomando café com povo do Bolsonaro, com brasileiros", diz, no vídeo.

O delegado Marcos Okuma afirmou que abriu inquérito assim que teve conhecimento do caso, na terça-feira (22). A vítima foi ouvida nesta quarta-feira (23).

"A gente apura a possibilidade de tortura. É uma hipótese. E já estamos levantando alguns nomes", disse .

Autônomo, o homem trabalha com fretes e fez um vídeo, no sábado (19), falando que estava na frente "dos bolsonaristas" onde foi "tomar um café e beber uma água", em tom de crítica. Na tarde de domingo recebeu uma ligação para buscar um sofá em um edifício no bairro Meia Praia, segundo o advogado Marcelo Saccardo Branco. Para a defesa, ao telefonema foi uma armadilha.

"Chegou ao endereço e já foi cercado pelo grupo. Eles tomaram os pertences dele, a chave da kombi, carteira e o agrediram, humilharam. Depois colocaram ele dentro de uma Hilux, estava sem liberdade total, e o levaram até a BR-101, onde ocorriam as manifestações", relata.

Às margens da rodovia, o homem teria sido obrigado a beber água e café, enquanto ouvia xingamentos. Mais tarde, teria sido forçado a participar dos atos antidemocráticos, com bandeiras do Brasil presas ao corpo.

O profissional autônomo ficou "sem liberdade", segundo o advogado, por pelo menos cinco horas. Os homens gravaram as ações e as compartilharam nas redes sociais (assista acima).

Segundo a defesa, o vídeo em que o homem criticava os atos foi encaminhado a um grupo de conhecidos do autônomo, mas acabou repercutindo e chegou ao grupo bolsonarista, que resolveu repreendê-lo.

Ameaças de morte

Após ser liberado pelo grupo, por volta das 20h, a vítima voltou para casa, mas continuara recebendo ameaças de morte, conforme o advogado de defesa. Por causa das ligações e mensagens recebidas, teve receio de procurar a polícia para registrar boletim de ocorrência.

"Depois de sair do ato, onde mais de 40 pessoas ficaram xingando e ameaçando ele, continuou recebendo ameaças para não denunciar", disse a defesa.

Violência nos atos ilegais

Outros casos recentes mostram a escalada da violência dos atos antidemocráticos em diversos pontos do país. (leia abaixo)

Tocantis

Agentes da Polícia Civil foram hostilizados por bolsonaristas acampados em frente ao 22º Batalhão de Infantaria do Exército, em Palmas, ao averiguar a presença de crianças e adolescentes no local.

Rondônia

A tubulação de bairros da cidade de Ariquemes foi arrebentada por supostos manifestantes, e a população ficou sem água tratada.

Uma mulher contou em um vídeo não ter chegado a tempo de ver a mãe doente ainda com vida por ter sido barrada em um bloqueio ilegal.

São Paulo

Dois trechos da Rodovia Anhanguera, em Campinas, foram bloqueados por bolsonaristas que danificaram caminhões na madrugada de quarta-feira (23).

Um servidor do IBGE foi espancado por bolsonaristas em Amparo ao tentar fugir de protesto.

Paraíba

Uma mulher foi agredida por bolsonaristas e presa pela PM por embriaguez, mesmo sem fazer teste.

Mato Grosso

Pai implorou para que bolsonaristas o deixassem passar com o filho, que faria cirurgia, e diz que o grupo usava facões.

Um grupo de estudantes foi impedido de passar de ônibus e caminhou mais de 5 km para fazer Enem.

Dois suspeitos foram presos por atos análogos a terrorismo e por porte ilegal de armas ao tentar incendiar caminhão em Sinop.

Homem é agredido por participantes de bloqueio.

Santa Catarina

Polícia Rodoviária Federal apreendeu bombas, miguelitos e compara bolsonaristas a black blocks.

Vídeo mostra grupo de bolsonaristas agredindo mulher após derrota nas urnas.

Policiais rodoviários levam golpes de barras de ferro em bloqueio bolsonarista.

Paraná

Caminhoneiro é agredido ao tentar furar bloqueio em rodovia.

Acre

Rio Branco enfrenta redução da frota de ônibus circulante por causa do desabastecimento de combustível, além de sofrer com falta de cimento e alimentos perecíveis por conta de bloqueios em Rondônia

Fonte: Caroline Borges, Clarìssa Batìstela e Patricia Silveira, g1 SC e NSC TV