Nasa diz que encontrou moléculas de água na superfície da Lua
Dois estudos publicados nesta segunda-feira (26) na revista científica "Nature Astronomy" apontam a existência de moléculas de água na superfície lunar. Os anúncios são a confirmação de indícios já levantados por pesquisadores desde a década passada.
A primeira pesquisa foi conduzido pela Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, que relatou ter localizado moléculas de água presas em grãos minerais. A descoberta foi feita na face da Lua que recebe a iluminação do Sol e foi apontada como a "prova química" da existência de água na superfície lunar.
A pesquisadora da Nasa, Casey Honniball, principal autora do estudo da Nasa, destaca que a detecção feita em sua pesquisa não é de água em forma de gelo.
"São apenas as moléculas de água – porque estão tão espalhadas que não interagem umas com as outras para formar gelo ou estar na forma líquida" - Casey Honniball, pesquisadora da Nasa.
Os pesquisadores usaram dados do observatório Sofia, uma aeronave Boeing 747SP modificada para carregar um telescópio, que mostra uma visão mais ampla do sistema solar e do universo.
O observatório detectou moléculas de água na Cratera Clavius, uma das maiores crateras visíveis da Terra.
Segundo o estudo, trata-se da primeira vez em que um grupo de pesquisadores foi capaz de diferenciar a molécula H2O (a fórmula química da água) de outro composto químico (hidroxila, OH) com o qual ela aparece misturada.
'Armadilhas frias'
O segundo estudo foi conduzido pelo departamento de astrofísica da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. De acordo com a pesquisa, o trabalho revela a existência de uma multidão de microcrateras com água gelada no fundo.
"Imagine-se na Lua, perto de um de seus polos: você veria uma miríade de pequenas sombras que preenchem a superfície; a maioria delas são menores do que uma moeda. Cada uma seria extremamente fria, o suficiente para conter gelo", descreve Paul Hayne, pesquisador da Universidade do Colorado.
A equipe da Universidade do Colorado usou dados de dois instrumentos do orbitador de reconhecimento lunar da NASA, o LRO. Combinando os dados com modelos 3D, eles conseguiram reproduzir o tamanho e a distribuição das sombras, em escalas menores que um milímetro.
Suspeitas confirmadas
O astrônomo Cássio Barbosa explica que o anúncio "é uma confirmação direta da existência de água na lua", sobre a qual já existiam suspeitas.
"Os métodos anteriores davam margem a dúvidas, ainda que pequenas. Esse resultado é muito mais robusto" - Cássio Barbosa, astrônomo
De acordo com Cássio, a descoberta é estratégica: ela pode ser útil para a colonização da Lua. "A água pode ser usada para abastecer as estações espaciais, mas também pode ser decomposta em hidrogênio e oxigênio. O hidrogênio, quando queima, libera muita energia e pode servir de combustível. Já o oxigênio servirá para manter a atmosfera dessa base lunar", disse Cássio.
Programa Artemis
A água encontrada na Lua foi vista como um recurso potencial pela Nasa, que criou um programa chamado Artemis em 2019 para enviar astronautas americanos de volta à Lua nos próximos anos. Lançar água no espaço custa milhares de dólares por galão. Futuros exploradores poderão usar a água lunar não apenas para matar a sede, mas também para reabastecer seus foguetes.
Busca por água na Lua
Sem uma atmosfera capaz de proteger o solo dos raios do Sol, os cientistas supunham que a superfície da Lua estava seca até a década de 1990. Nesta década, contudo, uma espaçonave em órbita encontrou indícios de gelo em crateras grandes e inacessíveis perto dos polos lunares.
O primeiro passo nesta jornada ocorreu em 2008, quando pesquisadores descobriram moléculas de água dentro do magma trazido por astronautas das missões Apolo.
Depois isso, em 2009, imagens da espaçonave Chandrayaan-1, da Índia, registraram assinaturas consistentes de reflexos de água na luz na superfície da Lua.
Mesmo assim, as limitações técnicas tornaram impossível saber se realmente era água ou moléculas de hidroxila (que são formadas por um átomo de oxigênio e um átomo de hidrogênio) em minerais.
Em 2017, cientistas da Universidade de Brown (Estados Unidos) publicaram um estudo na revista Nature na qual afirmavam que, usando espectômetros, conseguiram ver indícios do líquido preso no interior de rochas através da análise do comportamento da luz.
Fonte: G1