Idosa se desafia a escrever sem usar a letra A e mantém caderno com mais de mil frases: Passatempo

Idosa se desafia a escrever sem usar a letra A e mantém caderno com mais de mil frases: Passatempo
Dona Neusa gosta de aproveitar o período noturno para escrever — Foto: Arquivo Pessoal

Construir frases com sentido sem utilizar em nenhuma das palavras a primeira letra do alfabeto. E se eu te disser que é possível escrever desse jeito? É assim que a dona de casa Neusa Maria França de Oliveira, de Pederneiras (SP), no interior de São Paulo, gosta de passar o seu tempo livre há mais de 30 anos.

Em entrevista ao g1, a idosa de 73 anos explicou de onde surgiu a "mania", que desde sempre chama atenção dos familiares. Ao todo, são 1051 frases "catalogadas" no caderno, que é companheiro de Neusa desde 2016. No entanto, o passatempo teve início anos antes, como recorda Joice de Oliveira, filha da aposentada.

“A minha mãe sempre gostou muito de palavras cruzadas. Um dia eu ainda era criança, ela estava sem o passatempo dela e perguntou pra mim assim: 'Filha, como seria se não tivesse a letra A? Será que iríamos conseguir nos comunicar?’ Eu era criança ainda”, relembra a filha.

À época, apenas com 10 anos, Joice conta que demorou um tempo para entender o desafio que a sua mãe se propunha a cumprir. Porém, o que começou como uma brincadeira, logo foi ganhando forma e se tornou uma espécie de "hobby terapêutico", sobretudo à noite, acompanhando boa parte da rotina em casa.

"É um passatempo mesmo. Durante o dia, às vezes, vem umas frases na cabeça e eu vou lá e registro no caderno. É mais comum à noite, porque é o momento que estou sentada, sem fazer nada, só pensando em qualquer coisa”, revela Neusa.

E engana-se quem pensa que os escritos são orações que fogem de uma construção sintática. Com dizeres que incluem frases filosóficas, como "é lindo ver o pôr do sol morrendo no horizonte’" e momentos do dia a dia, como no caso do "fiz um mexido de ovos com brócolis. Ficou delicioso", Neusa empilha frases sem utilizar a letra mais presente no nosso vocabulário.

De acordo com estudos recentes, a letra A é a mais frequente na língua portuguesa, com 14,63% de participação nas palavras. A nível de comparação, as outras duas letras com mais participações no nosso vocabulário são E, com 12,57% e O, com 10,73%.

Além disso, as vogais A, E, I, O, U e as consoantes S, R, N, D, M formam mais de 3/4 dos textos em Português, sendo que a média de vogais a cada 10 letras é de 4.88.

Exercício para a mente

Para além do desafio linguístico, a filha Joice ressalta também a importância do método para a saúde mental da mãe, uma vez que o processo vem lhe ajudando a evitar esquecimentos comuns do cotidiano.

‘"A minha mãe desde sempre, foi muito esquecida. Já levamos ela ao médico por causa dos esquecimentos. Então quando ela fala que vai escrever a frase, ninguém conversa muito com ela, é um momento totalmente dela’", revela.

Ainda segundo a filha Joice, a mãe dona Neusa está ciente da "loucura" no método, ou da pouca usualidade nele, especialmente quando as pessoas descobrem a mania, mas nem por isso deixa de se divertir com o hobby.

"Todo mundo que conhece essa mania acha incrível. Fala que nunca tinham pensado nisso. Ela não sabe dizer por que começou ou por que continuou, e reconhece que é loucura mesmo. Mas é legal. De tempos em tempos ela pega o caderninho pra ver as frases que já fez, aí ela começa a rir muito, e sempre fala assim: ‘Meu Deus do céu de onde eu tiro tudo isso?'", conta.

Seja como for, a verdade continua uma só para dona Neusa: "Loucura é assim, se pensar demais, a gente não faz."

Fonte: Ricardo Silva, G1 Bauru e Marília