Covid-19 poderia ter acabado em junho no Rio se isolamento do início da pandemia tivesse sido mantido, diz especialista
Após passar dez dias com aumento expressivo na média móvel de mortes pelo novo coronavírus, o Estado do Rio se vê agora pelo quinto dia seguido com queda no índice. Os números, no entanto, parecem contrastar com a situação dos leitos de UTI na rede municipal da capital, quase preenchidos, e também com a aglomeração cada vez maior que se vê nas ruas. Diante deste cenário, o infectologista Roberto Medronho, professor da UFRJ, que acompanha a evolução da Covid-19 no Rio desde o início, diz que encara com cautela o que os dados mostram momentaneamente, e afirma que, se o isolamento praticado pelos cariocas fosse mantido desde o início, a doença já teria acabado ou, no mínimo, já estaria controlada há quatro meses.
O levantamento feito por Medronho, com dados da Secretaria Estadual de Saúde, baseados na data de início dos sintomas, mostra que, até a 24ª semana epidemiológica (entre os dias 7 e 13 de junho), a situação caminhava bem para o fim da onda de Covid-19 na capital. O início da piora no panorama começou durante o período em que deu-se início à flexibilização na cidade. O professor, no entanto, não acredita que esse tenha sido o único fator determinante.
— Caso o isolamento como vimos no início tivesse sido mantido, teríamos o fim da circulação do vírus, ou, no mínimo, um número bem menor de casos agora. De certa forma, as coisas já poderiam ter se resolvido. Mas, além da flexibilização em junho, creio que não termos uma política de mitigação dos efeitos econômicos, principalmente para as classes menos favorecidas, obrigou que essas pessoas saíssem para ir atrás do seu sustento — analisou.
Nesta segunda-feira, o estado chegou a 273.338 casos confirmados da Covid-19 e 18.780 mortes pela doença — 11.118 apenas na capital, e houve queda de 21% na média móvel de mortes. A ocupação dos leitos de UTI na rede pública da capital, até a última atualização da prefeitura, às 18h, estava em 83,2%. Para ele, o momento é de permanecer em alerta.
— A situação não é de baixar a guarda. Pelo que estou vendo, há aglomeração agora como nunca vista desde o início da pandemia. Isso pode ter um reflexo ruim daqui a mais um tempo. É como se as pessoas achassem que o problema já passou. Todos queremos que essa queda na média móvel de mortes continue de forma sustentada, mas estamos num período ainda bastante delicado — disse.
O calor também preocupa o especialista.
— Agora, com a chegada antecipada do verão, como normalmente acontece no Rio, a minha preocupação aumenta. As praias, os bares, os restaurantes estão apinhados de gente e o meu medo é que repitamos o que ocorreu na Europa, quando eles passaram a ter uma segunda onda. Mas aqui, nós nem conseguimos terminar a primeira.
Para Medronho, a situação dos leitos também é sinal de que o contágio pode estar aumentando.
– Eu acho que esse estresse sobre o sistema de Saúde é, não só em função do fechamento dos leitos do hospital de campanha do Maracanã, mas muito também pelo aumento de casos.
'Covidímetro' acende alerta
O alerta feito pelo professor justifica-se na nota técnica da UFRJ divulgada, também nesta segunda-feira, e assinada por ele pelos professores Claudio Miceli de Farias e Guilherme Horta Travassos, ambos da COPPE/UFRJ). O estudo, com base na movimentação de celulares em todo o estado, mostra que, no dia 30 de setembro, já havia movimentação de 65% dos aparelhos, de acordo com os pesquisadores, comparável ao "antigo normal", de antes da pandemia.
O "Covidímetro" da UFRJ também coloca o estado e a capital com risco moderado de contágio da doença. A cidade de Nova Iguaçu e a Região Serrana aparecem com risco alto. Aparecem no limite entre o risco moderado e o risco alto as regiões: da Baixada Litorânea, Centro-Sul, Médio Paraíba, Noroeste e Norte.
Fonte: Extra/Globo.com