Como cristão, acreditei que pudesse acontecer um milagre, diz gerente de funerária sobre pastor que prometeu ressuscitar no terceiro dia
RIO — "Como cristão, acreditei que pudesse acontecer um milagre. A gente vive e está todo dia aprendendo. Na Bíblia, está escrito que é possível. Aconteceu com Lázaro. A gente que tem fé acredita. Deus pode tudo, ele tira uma montanha de um lugar e coloca no outro, nada é impossível para ele. Mas infelizmente não aconteceu". Essas são palavras de José Dourado, gerente da Paz Universal, funerária onde o corpo de um pastor que prometia ressuscitar levou três dias sendo velado.
A família de Huber Carlos Rodrigues apresentou no estabelecimento um documento, assinado por duas testemunhas, em que o religioso pedia que não o sepultassem antes do prazo porque aconteceria um "Mistério de Deus". Huber, que teria morrido em decorrência de complicações da Covid-19, na sexta-feira só foi enterrado ontem por volta de meia-noite na cidade de Goiatuba, em Goiás, numa cerimônia que reuniu centenas de pessoas.
Por volta das 23h40 — quando o prazo estipulado pelo pastor se encerrou —, a mulher dele, Ana Maria de Oliveira Rodrigues, deu autorização para que o sepultamento fosse realizado.
Dourado conta que também é cristão e acredita que, para Deus, nada é impossível. Ele admitiu que a funerária, que existe há 44 anos, nunca tinha feito um sepultamento à noite, até porque o cemitério muncipal só funciona durante o dia. Apesar disso, a família, que mora no município de pouco mais de 35 mil habitantes, teria conseguido que um coveiro fizesse o serviço de madrugada.
— A gente fez a vontade da família, estamos aqui para atender da melhor maneira os parentes. Eles apresentaram um documento, com testemunha e tudo, em que o morto pedia para aguardar três dias pelo sepultamento. Lázaro também ressuscitou depois de três dias — acrescentou.
Foi a própria Paz Universal que procurou a Vigilância Sanitária. Na segunda-feira, o gerente do estabelecimento foi até a repartição pública pedir autorização para atender ao pedido da família do religioso para que não fosse sepultado antes de três dias. Ao se deparar com o pedido, o farmacêutico Luciano Borges Chaves, fiscal do setor na prefeitura, autuou o estabelecimento e abriu um processo administrativo, que pode levar à aplicação de multas de até R$ 250 mil. A funerária terá 20 dias para se defender no processo administrativo. De acordo com o farmacêutico, como Huber teve Covid-19 há cerca de dois meses, o corpo provavelmente já não oferecia maior risco sanitário para propagação da doença.
Segundo informações do G1, na declaração assinada em 2008, Huber afirmava ter tido divinas revelações do Espírito Santo e que passaria por um “mistério de Deus”, no qual ressuscitaria às 23h30, três dias após sua morte. O corpo do pastor ficou refrigerado em uma sala na funerária, a pedido da viúva, aguardando o fim do período estipulado, que terminou na noite de segunda-feira.
Huber morreu na última sexta-feira por complicações cardiorrespiratórias, após um período de internação em decorrência da Covid-19, em um hospital de Itumbiara, a 55 km de Goiatuba.
“Minha integridade física tem que ser totalmente preservada, pois ficarei por três dias morto, sendo que no 3ª dia, eu ressuscitarei. Meu corpo durante os três dias não terá mau cheiro e nem se decomporá, pois o próprio Deus terá preparado minha carne e meu cérebro para passar por essa experiência”, ele escreveu no documento, assinado por duas testemunhas, segundo o G1.
Fonte: O Globo