Caio Paduan diz que o teatro o transformou: Entendi que estava tudo bem ter o meu lado feminino

Caio Paduan diz que o teatro o transformou: Entendi que estava tudo bem ter o meu lado feminino
Caio Paduan — Foto: Rafael Cusato/Divulgação

Caio Paduan está de volta aos palcos no dia 31 de outubro, no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, com o espetáculo da BroadwayThe Boys in the Band - Os Garotos da Banda, considerado o primeiro com a temática abertamente gay. O ator interpreta Alan, um jovem violento, que se denomina heterossexual, e entra em conflito ao participar de uma festa de amigos homossexuais para a celebração de um aniversário.

"É um personagem de muitas camadas. Ele tem essa violência bem explícita, mas também possui muitas questões relacionadas à pressão que o homem em geral vive na sociedade. Os homens são ensinados, desde pequenos, a não chorar, por exemplo. Ele é um baita espelho do homem criado em uma sociedade machista e tóxica", analisa.

Aos 36 anos, Caio diz que o teatro o ajudou a ser um homem que não tem medo de acessar seu lado feminino. "A minha mãe sempre me abraçou e me incentivou a chorar quando sentisse vontade, a não reprimir meus sentimentos. Mas, em certos momentos, eu mesmo me questionava se seria certo chorar. O teatro me transformou muito neste sentido. Entendi que estava tudo bem ter o meu lado feminino", acredita.

A peça aborda questões de identidade, sexualidade, relacionamentos e autoaceitação. Caio espera levar reflexão para o público por meio da história de Alan e dos personagens de seus colegas de cena Leonardo Miggiorin, Tiago Barbosa, Otávio Martins, Caio Evangelista, Júlio Oliveira, Mateus Ribeiro, Bruno Narchi, Heber Gutierrez e Heitor Garcia.

"Existe uma função dramatúrgica de expor questões de uma parcela grande da sociedade, que por conta da criação, da opressão e de várias outras coisas, se repreende e não aceita os próprios sentimentos. Por conta disso, essa parcela emana o ódio. Ainda existem pessoas que agem como Alan. O teatro também é um instrumento político e social. Através da arte, a gente comunica e denuncia algo ou faz um alerta para que talvez, as pessoas que se reconheçam neste lugar, repensem suas ações", explica.

No começo dos ensaios, ele ainda se dividia com as apresentações no musical Iron - O Homem da Máscara de Ferro. Apesar do esforço - tinha dias em que ele saía de manhã e só voltava no final da noite - Paduan se alegra de poder viver de arte.

"Desejei muito viver da minha profissão e hoje vivo de arte no Brasil. É cansativo e puxado, não só fisicamente, mas psicologicamente. No entanto, é um privilégio emendar dois espetáculos. Além disso, estou em desenvolvimento de projetos de vídeos tanto como apresentador, quanto ator", adianta.

Solteiro desde o fim do relacionamento de cinco anos com Cris Dias, Caio ressalta que no momento só tem cabeça para o trabalho. "Estou em uma fase Caio trabalhador. Estou focadíssimo e muito empolgado com essas novas possibilidades. Sigo cada vez mais apaixonado por essa profissão e com o desejo de conquistar mais espaços. Estou em um momento feliz da carreira", pontua.

Você está emendando Iron com The Boys in the Band. Todos sabemos que teatro se faz mais por amor do que pelo dinheiro. O que te fez sentir a necessidade de se voltar ao teatro como ator?
Entendo quando falam de fazer teatro por amor porque a gente vive em um país que é muito difícil se produzir um espetáculo, mas é o teatro também gera emprego. Comecei no teatro e nunca deixei de estar no palco, mesmo quando fazia trabalhos no audiovisual. Mas a pandemia reascendeu a necessidade de produzir, criar e construir as narrativas que quero estar presente. Estar no teatro tem muito a ver com esse meu momento. Busco cada vez mais projetos conectados com os temas que quero dizer.

Como estava a sua rotina estando em cartaz com um musical e se preparando para essa estreia com The Boys in the Band?
Os dois espetáculos são completamente diferentes. Iron exige muito do físico por conta de ser um musical e usar a voz e corpo. The Boys in the Band é teatro de prosa. É uma dedicação muito suada, mas prazerosa. Não tem muito o que fazer, além de ensaiar muito para entrosar e entender bem o que vamos comunicar.

O que te atraiu neste texto?

A temática me atraiu e a possibilidade de contar que infelizmente, mesmo sendo um texto da década de 60, o tema é super latente e necessário nos dias de hoje. Vivemos em um país muito homofóbico ainda.

Seu personagem é o único que, em um primeiro momento, não é gay. O Alan está em um processo de descobertas. Como foi construir esse personagem?
Estou em processo ainda de construção. Antes e depois dos ensaios, conversamos muito com a direção, as cenas mais impactantes e fortes. É como um debate. Então vamos construindo junto o personagem, entendendo as nuances dele, as suas motivações, o que fez com que ele topasse ir ao apartamento. Ele ainda tem uma fuga no alcoolismo. Talvez esse personagem seja um dos mais desafiadores que fiz.

É um espetáculo que fala da homofobia também. Conversou com pessoas que foram vítimas desta violência?
Acredito muito na escuta. Este espetáculo requer muita escuta. A gente fala sobre isso várias vezes nos ensaios. Já que este não é o meu lugar de fala, escuto mais do que falo. Foi a coisa mais rica que fiz, poder escutar histórias de pessoas próximas e fazer essa troca potente enquanto artista. Tenho o dever de fazer esse personagem com muita dedicação e exatidão.

Você como um ator jovem, também tem sua intimidade muitas vezes exposta à força. Você se identifica com o Alan de certa forma, já que ele é pressionado a expor sua orientação sexual?
A partir do momento em que entrei para a TV e comecei a ter visibilidade, soube que isso poderia acontecer. A gente tem que aprender a lidar. Fui aprendendo a lidar com a exposição da minha intimidade com a experiência. Aprendi que a melhor coisa é ter uma ótima relação com a imprensa. Faz parte do show.

Fonte: Quem News/Globo.com