Vulcão nas Ilhas Canárias já destruiu 100 casas em La Palma, que vê situação 'devastadora'; o que sabe até agora sobre a erupção

Vulcão nas Ilhas Canárias já destruiu 100 casas em La Palma, que vê situação 'devastadora'; o que sabe até agora sobre a erupção
A lava jorra de um vulcão no parque nacional Cumbre Vieja em El Paso, nas ilhas Canárias de La Palma Foto: REUTERS

LA PALMA, Espanha — Menos de 24 horas depois de entrar em erupção, o vulcão Cumbre Vieja deixou um rio de lava que já afetou pelo menos cem casas na ilha de La Palma. Até o momento, cerca de 5 mil pessoas foram retiradas da região que, segundo o prefeito de El Paso, Javier Rodríguez Fernández, foi completamente evacuada.

O presidente do Conselho Municipal informou que a situação na região "é devastadora". O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, viaja nesta segunda para a ilha.

— Um fluxo de lava com uma altura média de seis metros corrói literalmente casas, infraestruturas, colheitas que encontra no caminho — explicou Mariano Hernández Zapata.

As autoridades espanholas planejam retirar até 10 mil pessoas das zonas mais expostas à erupção do vulcão. Durante a madrugada, forças de segurança não pararam de trabalhar na evacuação dos moradores. A maioria foi levada para um quartel em Peña Bajo.

A Guardia Civil mobilizou mais de 120 agentes, de diferentes unidades, para ajudar na operação. Há várias estradas afetadas, estando algumas delas fechadas ao trânsito por precaução.

A Sociedade Brasileira de Geologia (SBG) publicou uma nota técnica na sexta-feira sobre o risco de um tsunami atingir a costa brasileira em caso de erupção do vulcão. No documento, a instituição afirmou que, apesar de existir um risco e de ele ser estudado desde 1999, a probabilidade de o fenômeno ocorrer é muito baixa.

De acordo com a agência Lusa, técnicos analisam a evolução da erupção e os dados recolhidos para fazerem previsões para onde o magma pode avançar. As próximas retiradas de população dependem disso, se necessário, acrescentou o presidente do Conselho Municipal.

— Esperamos que a lava respeite, que seja benevolente e se dirija para o litoral, causando o mínimo de impactos possível — disse Zapata.

Zapata apelou à "responsabilidade e bom senso", perante o fato de "muitas pessoas" se aproximarem da zona da erupção, causando "problemas" nos esforços de evacuação.

— Haverá tempo para ver o vulcão — afirmou.

O primeiro-ministro português, Antônio Costa, enviou no domingo à noite uma mensagem de solidariedade ao seu homólogo espanhol e manifestou a disponibilidade de Portugal para fornecer apoio. Também o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, manifestou no domingo solidariedade para com o seu homólogo das Canárias, Ángel Torres Pérez, e ofereceu ajuda.

O que se sabe até agora

O vulcão Cumbre Vieja, na ilha de La Palma, na comunidade autônoma espanhola das Canárias, entrou em erupção às 11h12 no horário de Brasília (15h12, no horário local) de domingo,  na zona de Las Manchas, depois de mais de uma semana de registro de milhares de atividades sísmicas na região. O complexo vulcânico de Cumbre Vieja não entrava em erupção desde 1971.

Antes da erupção, um sismo de magnitude 3,8 foi registrado à superfície. O Comite Científico do Plano de Prevenção de Riscos de Vulcões chamou atenção para a eventualidade de queda de rochas na costa sudoeste da ilha, que "poderão também causar danos nos edifícios".

Na manhã de domingo, as autoridades começaram a retirar as pessoas com problemas de mobilidade das localidades dos municípios de El Paso, Los Llanos de Aridane, Villa de Mazo e Fuencaliente. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, cancelou compromissos neste domingo e segue para a ilha de La Palma, no arquipélago das Canárias. "Perante a situação na ilha de La Palma, o presidente adiou a viagem prevista para hoje para Nova Iorque", onde vai participar na Assembleia Geral das Nações Unidas, "e vai visitar as Ilhas Canárias para acompanhar o desenvolvimento da situação", disse em um comunicado citado pela AFP.

Ainda de acordo com as autoridades locais, os serviços de emergência estão se preparando para a eventualidade de terem de evacuar cerca de um milhão de pessoas e o governo recomenda que a população não se aproxime da área atingida. Os moradores da região foram orientados a procurarem um dos cinco abrigos, e soldados foram enviados para ajudar nas remoções.

Após o vulcão Cumbre Vieja entrar em erupção, o gestor da navegação em Espanha, Enaire, emitiu uma recomendação, como medida preventiva, para que sejam suspensos os voos para a ilha de La Palma. Nesta manhã, as autoridades começaram a retirar as pessoas com problemas de mobilidade nas localidades dos municípios de El Paso, Los Llanos de Aridane, Villa de Mazo e Fuencaliente.

No entanto, segundo informou fontes da agência Efe, o tráfego aéreo não está fechado e em última instância a decisão deverá partir das companhias aéreas. A companhia aérea Binter Canarias não acatou a recomendação. Através das redes sociais, empresa infomou que tem conhecimento da situação vulcânica e que neste momento funciona "normalmente", embora a fumaça "possa afetar a visibilidade".

Risco para o Brasil é baixo

O vulcão Cumbre Vieja teve seu nível de alerta elevado de verde para amarelo pelo Plano Especial de Proteção Civil e Atenção às Emergências de Risco Vulcânico das Ilhas Canárias (Pevolca) na última semana. Isso aconteceu após o registro de um aumento rápido no número de terremotos e atividades sísmicas nos últimos dias, totalizando cerca de 22 mil tremores, segundo a Reuters.

A divulgação do alerta causou preocupação no Brasil e fez o assunto ser um dos mais comentados nas redes sociais. Mas, afinal, as chances de acontecer esse fenômeno são motivo de real preocupação?

Na visão do professor Francisco de Assis Dourado, do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as consequências de uma eventual erupção do vulcão na ilha La Palma não causariam ondas colossais. Ele explicou que as simulações que mostram a chegada de um tsunami usam velocidades extremas.

— Mas as probabilidades dentro desses parâmetros são muito pequenas — afirmou.

Para o professor e geólogo André Avelar, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não há qualquer risco para o Brasil.

— Essa erupção está associada a pequenos abalos sísmicos, mas que são de pequena magnitude, em torno de 3,8º na escala Richter. Para ocorrer um tsunami, teria que ser um abalo mais alto, da ordem de seis, sete e daí pra cima. Os abalos sísmicos relacionados ao vulcão não terão como consequência os tsunamis — disse o professor.

Fonte: O Globo