Rússia anuncia tomada de Melitopol, enquanto combate se acirra em Kiev

Rússia anuncia tomada de Melitopol, enquanto combate se acirra em Kiev
Prédio atingido por míssel em Kiev, na Ucrânia Foto: GLEB GARANICH / REUTERS

KIEV — No terceiro dia da invasão da Ucrânia, as forças russas tomaram a cidade de Melitopol, no Sudeste do país, informou a agência de notícias Interfax. Testemunhas confirmaram a entrada das tropas de Moscou, e uma bandeira da Rússia foi hasteada no prédio do governo.

As autoridades ucranianas ainda não confirmaram a informação. Melitopol tem cerca de 150 mil habitantes e é uma das maiores cidades tomadas desde a invasão. Kherson, no Sul, foi ocupada na véspera, mas forças ucranianas contra-atacaram neste sábado, e jornalistas ucranianos relatam que ela está de novo sob controle do Exército de Kiev. A maioria dos avanços russos se concentra no Sul, onde também há em curso uma batallha para dominar Odessa, a terceira maior cidade ucraniana. Cidades no no Nordeste, como Sumy e Polltava, registraram confrontos ao longo deste sábado.

Em uma mensagem de propaganda, o porta-voz do ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, disse que "unidades russas estavam em marcha e entraram em Melitopol, sem encontrar resistência", acrescentando que a população "recebeu as tropas com bandeiras vermelhas". A informação não foi confirmada.

Ataques em Kiev

Na capital Kiev, os combates se intensificaram, mas o Centro permanece sob controle dos ucranianos. Tiroteios e explosões puderam ser ouvidos por toda a cidade, inclusive em seu coração, a praça Maidan. Um prédio residencial perto do aeroporto de Zhulyany foi atingido por um míssil. Ainda não há informações sobre vítimas, mas moradores foram retirados do edifício enquanto bombeiros tentavam apagar as chamas no local.

Segundo  a Reuters, outro prójetil atingiu uma área perto do aeroporto, danificando uma base militar. Uma testemunha também confirmou que tiros foram registrados perto de prédios governamentais no centro da cidade no amanhecer.

Forças russas tentaram dominar  a usina hidrelétrica de Kiev, mas há relatos divergentes sobre quem controla a instalação.

Autoridades americanas informam que dois aviões russos de transporte militar Ilyushin Il-76 foram derrubados. O primeiro perto de Bila Tserva, a 85 quilômetross ao sul de Kiev. O segundo foi abatido perto de Vasylkiv, a 40 quilômetros ao sul de Kiev. Estas aeronaves podem transportar equipamentos ou soldados, cada uma com capacidade para 125 paraquedistas. Ainda não há informações sobre vítimas nem sobreviventes. A Rússia não se manifestou sobre os episódios.

Em meio a destruição e a possível confirmação de civis feridos, o ministério da Defesa da Rússia disse em comunicado que lançou ataques com mísseis de cruzeiro durante a noite contra alvos na Ucrânia, mas alegou "visar exclusivamente a infraestrutura militar".

Em um discurso na televisão, um conselheiro do governo ucraniano, Mykhailo Podolyak, afirmou que a situação em Kiev estava “100% controlada” e que a cidade resistiu a ataques noturnos. A prefeitura anunciou a extensão do toque de recolher, que agora será de 17h às 8h, de acordo com a hora local. Anteriormente, a medida era válida de 22h às 7h. Segundo uma mensagem,"todos os civis que estiverem nas ruas durante o toque de recolher serão considerados membros de grupos inimigos de reconhecimento e sabotagem".

Podolyak disse na manhã de sábado que a Ucrânia havia matado mais de 3.500 russos e capturado pouco menos de 200 mais. Oleksiy Arestovych, outro conselheiro de Zelensky, disse que as forças russas perderam cerca de 14 aeronaves, incluindo 1-2 aviões de transporte Ilyushin-76 que transportavam paraquedistas, 8 helicópteros, 102 tanques e 536 veículos blindados. Estes informes não podem ser confirmados de forma independente.

Alertas de Zelensky

Para demonstrar que permanece em Kiev e para iincentivar a população a lutar, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, emite várias mensagens por dia. Na madrugada de sexta para sábado, ele afirmou que o Exército russo preparava uma ofensiva fulminante para tomar Kiev durante a madrugada, fazendo um apelo:

— Não podemos perder a capital.

Neste sábado, ele voltou à televisão para exaltar a resistência ucraniana, e dizer que a capital permanece sob o seu controle:

— Mantivemo-nos firmes e repelimos com sucesso os ataques dos inimigos. Os combates continuam em muitas cidades e regiões do país, mas é o nosso Exército que controla Kiev e as principais cidades ao redor da capital — disse Zelensky em um vídeo publicado no Facebook. — Os ocupantes queriam bloquear o centro do nosso Estado e colocar marionetes no seu lugar, como em Donetsk [região separatista ao Leste]. Conseguimos desmantelar o plano deles;

Segundo vários jornais americanos, o governo americano também ofereceu ajuda para retirar Zelensky de Kiev, mas por enquanto ele rejeitou a oferta. De acordo com uma autoridade americana citada pela Associated Press, após receber uma oferta americana para deixar a capital e possivelmente fugir para outro país, Zelensky respondeu:

— A luta é aqui. Eu preciso de munição, não de uma carona.

No vídeo deste sábado, o presidente buscou demonstrar confiança:

— Há muitas notícias falsas de que estou pedindo ao Exército que baixe as armas e se retire. É assim: estou aqui. Não estamos baixando nenhuma arma. Protegeremos nosso país, porque nossas armas são nossa verdade. A verdade é que esta é a nossa terra, o nosso país, os nossos filhos, e vamos protegê-los a todos. É isso. É isso que eu queria te dizer. Glória à Ucrânia.

Na madrugada deste sábado, houve vários relatos de confrontos no Leste, Oeste e Sul da capital. Vídeos de testemunhas mostram explosões no Noroeste de Kiev.

Negociações

Apesar da intensificação dos combates em Kiev, os governos russo e ucraniano sinalizaram uma abertura às negociações. Segundo afirmou, nessa sexta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a Rússia estaria pronta para enviar uma delegação a Minsk, capital da Bielorrússia, para dialogar com a Ucrânia.

A Rússia, no entanto, impõee a desmilitarização da Ucrânia como condição para aceitar suspender a ofensiva, e isso equivale a uma rendição por parte de Kiev.

Mais cedo, Putin disse estar disposto a enviar uma delegação a Minsk, capital da Bielorrússia, para negociar com a Ucrânia. O porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, descreveu a proposta como uma "diplomacia realizada sob a mira de armas, quando bombas, morteiros e artilharia de Moscou atingem civis ucranianos".

A Rússia exige que a Ucrânia abandone sua ambição de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e pede que a aliança militar liderada pelos EUA reduza a sua presença no Leste Europeu. Mas ontem a Otan anunciou que ativará seus planos de defesa para reforçar seu flanco oriental na Europa.

Fonte: O Globo e agências internacionais