Professor da UFS esclarece se há risco em tomar vacinas diferentes

Professor da UFS esclarece se há risco em tomar vacinas diferentes
Professor Diego Moura Tanajura esclarece dúvidas sobre aplicação de doses diferentes de vacinas da Covid-19 (Foto: Josafá Neto/Rádio UFS)

Após uma idosa de 75 anos receber doses de vacinas diferentes contra o novo coronavírus (Covid-19) em Aracaju, muitas pessoas passaram a questionar se há riscos para a pessoa vacinada a imunização feita através de doses de fabricantes distintos.

O professor do Departamento de Educação em Saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Diego Tanajura, esclarece as principais dúvidas sobre o assunto. Ele tem experiência no desenvolvimento de pesquisas sobre testes e ensaios pré-clínicos de vacinas no Brasil.

UFS: Quais são os riscos para a idosa vacinada contra o novo coronavírus com doses de fabricantes diferentes?

Diego Tanajura- O risco é mínimo. O risco é o mesmo caso ela tivesse tomado as doses corretas, porque estamos falando de duas vacinas seguras, a Coronavac e a da AstraZeneca. O que se deve fazer é acompanhar a pessoa para ver se ela não vai ter alguma reação adversa. Já houve relatos disso acontecendo em outros estados e a gente não teve observação de reação adversa grave. Não é porque houve uma mistura de vacinas que ela vai ter alguma reação alérgica. Pode acontecer algo se ela já tiver alergia a algum dos componentes da vacina, mas não pelo fato de serem dois imunizantes diferentes. A da Coronavac certamente ela não tem, porque foi a primeira que tomou e até agora não teve nada grave que a gente saiba. É preciso olhar em relação à vacina de Oxford. Vale ainda ressaltar que as duas vacinas em questão foram amplamente testadas em idosos e mostraram que são seguras.

UFS- Esse equívoco na imunização gera implicações quanto à eficácia das duas vacinas contra a covid-19 aplicadas na idosa?

Sim, é bem possível que isso traga implicações nesse aspecto. Agora, não sabemos se essas implicações seriam, por exemplo, aumentar ou diminuir a eficácia do imunizante. Não temos dados sobre essa questão da mistura de vacinas. Então, não temos como falar sobre como ficaria a eficácia neste caso. A Coronavac tem uma eficácia de 50,4%, mas somente quando você aplica as duas doses dela. Nesse mesmo modelo, a da AstraZeneca chega a uma eficácia de 82%. Agora, na mistura delas, ainda não sabemos o que poderia acarretar em relação à eficácia. Neste episódio da idosa, alguma imunidade será desenvolvida. Ela vai desenvolver algum grau de proteção. O que a gente não sabe é qual seria esse grau, qual seria essa eficácia, porque ela não vai ter a eficácia de cada um dos imunizantes.

UFS: Por que a orientação é evitar a aplicação de vacinas de origem distinta numa mesma pessoa?

Mesmo não tendo risco, não se recomenda aplicar doses diferentes de vacinas contra a covid-19 porque não há resultados de eficácia. Você não sabe se a eficácia vai ser menor ou maior ao fazer essa mistura. É preciso um estudo mais aprofundado sobre isso. Um exemplo: existem vacinas contra o ebola que, apesar de serem doses diferentes, existem estudos sobre elas em relação a isso. As vacinas contra poliomielite têm estratégias vacinais diferentes, mas há um estudo sobre elas. A vacina da Rússia contra a covid-19, se você fizer uma avaliação através da metodologia de vetor viral, a primeira dose é diferente da segunda, mas você teve ensaios clínicos para mostrar que cada dose dessa, apesar de diferente, é segura e eficaz. Oxford, por exemplo, está testando essa mistura, primeiro a dose dela e depois um reforço com a Pfizer. Há também ensaio clínico registrado com a primeira dose sendo da vacina de Oxford e a segunda dose com a Sputnik. Então, precisamos aguardar esses resultados para descobrir como ficará a eficácia e saber se pode ser recomendada essa mistura ou não. No momento atual, a recomendação é tomar as duas doses da mesma vacina.

UFS- O Ministério da Saúde não recomenda a administração de doses adicionais nestas situações de troca de vacinas. O senhor concorda?

Esse indivíduo é considerado como devidamente não imunizado, por isso que eu discordo dessa conduta do Ministério. Algo precisa ser feito. Na minha avaliação, em relação à idosa, o que poderia ser feito é, justamente, não aplicar a terceira dose da Coronavac, porque ficaria muito próxima da aplicação da vacina de Oxford, que foi a segunda dose, a dose trocada. Poderia então “esquecer” a primeira dose da Coronavac e contar apenas a de Oxford como primeira dose. A partir daí você dá um espaçamento de doze semanas para a segunda dose. É um tempo maior principalmente por ser uma paciente idosa, não sabemos se ela tem comorbidades, por exemplo. Com isso, você teria a vacinação completa com o esquema da AstraZeneca, a vacina de Oxford, que tem uma eficácia de 82%. Se você não der a dose adicional, não tem como saber qual a real eficácia da vacina naquela pessoa. E temos exemplos em outros estados, que estão dando as doses adicionais para que as pessoas tenham o esquema completo de uma das vacinas.

Fonte: UFS/SE