Pedreiro e esposa presos pela morte de Vitória Gabrielly vão a júri sem público

Pedreiro e esposa presos pela morte de Vitória Gabrielly vão a júri sem público
Casal é réu pela morte da menina Vitória Gabrielly em Araçariguama (SP) — Foto: Reprodução

O segundo júri do assassinato de Vitória Gabrielly é realizado no Fórum de São Roque (SP), na manhã desta segunda-feira (8). Os réus Bruno Oliveira e Mayara Abrantes, dez testemunhas de defesa e sete de acusação serão ouvidos.

De acordo com o Tribunal de Justiça, o júri terá medidas de isolamento devido à pandemia e não será permitida a presença de público no plenário. Procurado pelo g1, o advogado Clayton Wesley de Freitas Bezerra, que defende os réus, disse que irá se manifestar após o início do julgamento.

Por conta do impedimento de assistir ao júri, o pai de Vitória, Beto Vaz, fez um desabafo nas redes sociais.

"Ligo minha TV e vejo um estádio lotado com mais de 40 mil pessoas assistindo a um jogo de futebol. Mas um pai, uma mãe, vítimas de um crime que chocou o Brasil e o mundo, não podem assistir ao julgamento de um caso que se trata do assassinato de sua própria filha por conta das restrições. Esse Brasil, que não entendemos e não aceitamos, é também o Brasil de um povo de fé. E, mesmo com tantos motivos para nos derrubar, temos um Deus em quem confiar. A justiça do homem é falha, mas a de Deus é plena."

Antes de Bruno e Mayara, o servente Júlio César Ergesse já havia sido julgado por ter participado do crime em Araçariguama, em 2018. Com as qualificadoras de motivo torpe, meio cruel, recurso que impossibilitou a defesa e crime cometido para ocultar, a primeira condenação de Júlio chegou a 34 anos.

A defesa do servente de pedreiro entrou com recurso no Superior Tribunal de Justiça para tentar anular o júri de 21 de outubro de 2019. Em segunda instância, o Tribunal de Justiça diminuiu a pena dele para 23 anos e quatro meses de detenção, sendo quase 10 anos a menos.

Na época do julgamento do pedreiro, o juiz Flávio Roberto de Carvalho, que conduz também o julgamento do casal, afirmou que foi o caso mais difícil em toda a sua profissão.

O júri de Júlio Ergesse

Na época, o g1 acompanhou o julgamento. Júlio chegou ao Fórum às 8h57, pouco antes do início da audiência, que começou por volta das 9h30. Nove testemunhas foram ouvidas, entre elas um amigo do servente, que relatou que foi procurado por ele três dias após a garota desaparecer.

"O Júlio estava alterado quando me procurou, muito nervoso. Dei água com açúcar e insisti para falar o que tinha acontecido. O Júlio disse que não sabia onde tinham deixado a menina. Me senti na pele dos pais da menina, mesmo considerando o Júlio um irmão", contou a testemunha durante a audiência.

Ainda conforme a testemunha, ele e Júlio se falaram no dia 11 de junho de 2018, três dias depois da adolescente Vitória ter desaparecido. Conforme depoimento, a testemunha negou envolvimento dela no caso, disse que conhece Júlio há 11 anos e que eles nunca brigaram.

Quem também iria falar sobre o trabalho da polícia seria o ex-chefe da investigação de Araçariguama (SP), Marcos Pereira Gomes, conhecido como Marcão.

No entanto, o policial morreu ao sofrer um infarto na academia, em São Roque. No lugar dele quem prestou esclarecimentos foi a delegada Bruna Racca.

A delegada disse que, com o uso dos cães farejadores, Júlio não foi identificado no local onde o corpo foi encontrado.

Ainda segundo Bruna, a maioria dos carros vistoriados nas imagens de câmeras de segurança obtidas pela polícia foi identificada. Nenhum era dos réus.

A delegada disse que foram feitas acareações e que, em nenhum momento, Júlio se colocou no homicídio, apenas no momento em que a garota foi sequestrada.

Já Júlio fez seu depoimento somente na presença dos advogados de defesa e acusação e do júri, durante a tarde.

A medida foi estabelecida pelo juiz Flávio Roberto de Carvalho, que pediu a todos que estavam presentes no auditório para se retirarem durante o depoimento de Júlio Cesar Ergesse.

Debates

Após o depoimento de Júlio, houve a fase dos debates. O promotor Washington Luiz Rodrigues Alves afirmou que ele admitiu o envolvimento no sequestro e que teria segurado a menina no carro, que ainda não foi identificado.

Segundo o promotor, Júlio teria ficado dentro do veículo enquanto a adolescente foi levada para a mata. Ainda de acordo com promotor, foram encontradas roupas de Júlio dentro do carro e uma peça íntima no meio das peças com esperma do réu.

Já o advogado de defesa Glauber Bez pediu aos jurados a absolvição de Júlio no homicídio. Segundo ele, nada coloca o réu no local do crime. Ele se embasou também nos depoimentos dos treinadores dos cães.

Relembre o caso

Mayara, Bruno e Júlio foram presos acusados de participação direta na morte da menina. Os três estão na penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba (SP). Eles negaram os crimes desde o início.

Vitória Gabrielly desapareceu na tarde do dia 8 de junho de 2018, quando saiu de casa para andar de patins, em Araçariguama.

Uma câmera de segurança registrou a menina na rua no dia do sumiço. O desaparecimento mobilizou buscas diárias com cães farejadores e policiais pela região.

A adolescente foi encontrada morta oito dias depois, em 16 de junho, em uma mata às margens de uma estrada de terra, no bairro Caxambu.

Segundo a polícia, a garota estava com os pés e as mãos atados e o corpo amarrado a uma árvore. Vitória usava a mesma roupa que vestia no dia em que sumiu e os patins foram encontrados perto do corpo.

A morte da menina comoveu a cidade de Araçariguama, que se mobilizou para encontrá-la. Cerca de duas mil pessoas participaram do enterro, no cemitério da cidade.

O inquérito que investigou a morte da adolescente contém 1.774 páginas. Dias depois, a Polícia Civil abriu um segundo inquérito para realizar buscas pelo suspeito de integrar a cúpula do tráfico de drogas na região e que estaria envolvido no crime.

Na época do crime, a polícia apurou que Vitória foi raptada por engano para que uma dívida de drogas fosse quitada. A menina teria sido morta depois que os criminosos perceberam que estavam com a pessoa errada.

Quarto suspeito

O quarto suspeito de participação no crime foi preso no dia 21 de maio e reconhecido através de fotos por duas testemunhas protegidas. Odilan Alves, de 36 anos na época, morava em Itapevi (SP) e confessou que comandava o tráfico de drogas na região de Araçariguama.

A identificação dele como suposto mandante do crime foi possível em função de características passadas por uma testemunha protegida em depoimento ao Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em São Paulo (SP).

Outros três jovens foram apreendidos no bairro Jardim Brasil, em Araçariguama, suspeitos de trabalharem para o traficante.

Ao fim, Odilan pode responder por tráfico de drogas, associação criminosa e também pela morte da menina.

Fonte: Carlos Henrique Dias, G1 Sorocaba e Jundiaí