O que falta para realmente festejar o Dia Mundial da Bicicleta?

O que falta para realmente festejar o Dia Mundial da Bicicleta?
Pixabay/Ilustrativa

Em 2018, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial da Bicicleta – 3 de junho –, com a proposta de incentivar esse meio de transporte. A iniciativa é louvável por várias razões, entre as quais a redução drástica de poluição sonora, de emissão de poluentes e de gases de efeito estufa, causadores das mudanças climáticas, em comparação ao uso de alternativas movidas a combustíveis fósseis.

A menor circulação de veículos motorizados no período de isolamento social por conta da pandemia de covid-19 gerou significativa melhoria na qualidade do ar. Um levantamento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), feito entre os dias 20 e 30 de março de 2020, constatou esse efeito benéfico à população em todas as suas 29 estações de monitoramento.

Os pulmões agradecem, mas os benefícios de pedalar regularmente se estendem a todo o organismo. Além de reduzir os riscos de problemas ligados ao sedentarismo de modo geral, a exemplo das doenças cardiovasculares, o uso da bike aumenta o condicionamento físico, por sua ação sobre a capacidade aeróbica e por demandar os principais grupos musculares. O bem estar mental também é um ganho observado corriqueiramente pelos ciclistas.

O uso do pedal igualmente favorece a economia. Há disponíveis no mercado bicicletas de vários tipos e adequadas aos diversos perfis de poder aquisitivo. Para o ciclista, é a chance de se deslocar com zero gasto contínuo e mesmo o custo de manutenção da bicicleta está longe de ser proibitivo.

Num espectro mais amplo, o transporte por essa alternativa impulsiona toda uma cadeia de produtos e serviços, mobilizando acessórios, trajes especiais, consertos e instalação de equipamentos. Grande parte dos materiais utilizados se presta à reciclagem, outro benefício de ordem ambiental.
 
As dificuldades

Insegurança é a palavra de ordem quando se trata do desestímulo ao maior uso das bicicletas como rotina de deslocamento. F5News solicitou à Secretaria de Segurança Pública de Sergipe a estatística do roubo de bikes no estado nos últimos anos – em 2020, foram 211 ocorrências; em 2021, houve 254 e este ano, até o dia 31 de maio, 95. Veja no quadro abaixo.

Para além da perda patrimonial e da desagradável experiência vivida pelos ciclistas roubados, a falta de segurança repercute mais ainda o temor de circular pelas vias públicas em meio a veículos motorizados cujos condutores nem sempre respeitam a turma do pedal.
O número de acidentes de trânsito envolvendo ciclistas cresceu em Aracaju, de 2021 para este ano, conforme o levantamento que F5News solicitou à Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) da capital. De janeiro a maio do ano passado, foram 19 ocorrências, com duas vítimas fatais. No mesmo período de 2022 – os cinco primeiros meses -, aconteceram 29 acidentes, com registro de uma morte.

A vítima fatal em Aracaju foi um ciclista, cujo nome não foi divulgado na ocasião, morto em um atropelamento por ônibus do transporte coletivo na avenida José Carlos Silva, no conjunto Orlando Dantas, na zona sul, em 25 de maio passado.

Em Sergipe, porém, pelo menos outros dois ciclistas morreram enquanto circulavam no trânsito em 2022. F5News informou a morte do jovem Antony Rocha, de 19 anos, também atropelado, dessa vez por um carro de passeio, na noite de 19 de fevereiro, na Rodovia SE-220, no Povoado Ponto Chique, zona rural de Graccho Cardoso. O condutor do veículo fugiu sem prestar socorro, conforme as informações policiais.

Em 9 de abril, outro sábado, mais um ciclista morreu no trânsito. Ele foi atingido por um carro, que bateu na traseira de sua bicicleta na rodovia SE 100, no povoado Caueira, em Itaporanga D’Ajuda. O motorista igualmente fugiu sem prestar socorro e a vítima morreu no local.

A Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista Brasileiro, organizada pela ONG Transporte Ativo e pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável (Labmob), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), contou com uma extensa rede de organizações colaboradoras que levaram a campo, entre setembro de 2017 e abril de 2018,  mais de 140 pesquisadores para realizar 7.644 entrevistas.

Para 40,8% desse universo, o maior impeditivo para o uso da bicicleta como meio de transporte é a falta de segurança no trânsito. Embora o levantamento não seja atual, é fácil supor que essa queixa prossiga recorrente.

As “magrelas” no anonimato

O Observatório da Bicicleta, que conta com o patrocínio do banco Itaú, questiona a falta de dados precisos sobre a quantidade de bikes existentes no Brasil, apesar da importância desse levantamento para a elaboração de políticas públicas, ou mesmo no âmbito da iniciativa privada.

A organização cita como entraves para obter essa informação sobre bases fidedignas o fato de as bicicletas não necessitarem registro ou cadastro em nenhum órgão regulador (a exemplo dos automóveis, registrados no Departamento Nacional de Trânsito - Denatran). Outra dificuldade é que muitas são montadas por lojas e bicicletarias, a partir de peças avulsas, sem a existência de registro de tal produção. “É inestimável a quantidade de bicicletas sem uso, que se deterioram paradas”, completa o Observatório.

Empiricamente, tendo a magrela própria ou não, tudo indica que os brasileiros vêm tomando gosto pelo pedal. O estudo "Micromobilidade no sul global", feito pela start up Tembici, que possui uma plataforma de bicicletas compartilhadas com parceiros como o Itaú e o iFood, identificou  um aumento de 400% no uso de bikes como meios de transporte na América Latina nos últimos dez anos. São mais de 45 mil bicicletas e 75 sistemas de bicicletas compartilhadas, que funcionam em cerca de 13 países. Dentre eles, o Brasil é o que possui a maior oferta do chamado bike-sharing: aproximadamente 33%.


Fonte:F5 News