Milícia do Rio tem fornecedor de armas dos EUA; veja quem é quem na maior organização criminosa do estado

Milícia do Rio tem fornecedor de armas dos EUA; veja quem é quem na maior organização criminosa do estado

A estrutura bem organizada da milícia de Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, chamou atenção do Grupo de Atuação Especializada do Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ) e da Polícia Federal. Com tarefas definidas, ao menos 23 criminosos se dividem em funções, do comando-geral à chefia de cada setor do bando. Um dos destaques é o fornecimento de armas para a organização criminosa que, segundo os investigadores, teria como intermediário um comerciante da Rocinha, suspeito de comprar armas, principalmente, dos Estados Unidos.

A informação consta de documentos que serviram de base para policiais e promotores desencadearem a Operação Dinastia, ocorrida na semana passada, contra a maior milícia em operação no estado. Segundo a promotoria, a investigação revelou que a milícia de Zinho tinha acesso a banco de dados da polícia.

Viagens ao exterior

A suspeita sobre o fornecedor de armas recai sobre Patrick da Silva Martins, proprietário de um bar na Rocinha. De acordo com a representação do MPRJ, Patrick faz constantes viagens ao exterior. Por conta das suspeitas, a casa dele, em Campo Grande, na Zona Oeste da cidade, foi alvo de mandado de busca e apreensão, onde foram recolhidas mais provas.

Patrick, inclusive, se encontrava nos Estados Unidos, onde também teria residência, quando aconteceu a operação. Por meio de troca de mensagens com os demais integrantes da quadrilha, ele enviou informações técnicas sobre uma pistola usada por forças policiais da Turquia para um dos membros do bando, segundo os investigadores. Cada unidade custaria US$ 12,5 mil e haveria a disponibilidade de pelo menos 18 pistolas. Uma foto da arma, dentro do estojo, chegou a ser enviada por mensagem. O comerciante da Rocinha é citado em um diálogo entre um integrante da quadrilha identificado pelo apelido de Azeitona e Rodrigo dos Santos, o Latrell, que, até ser preso em São Paulo em março deste ano, era considerado o número dois do bando.

Enquanto estava fora do Rio, Patrick aparece novamente como um dos personagens da investigação. Mesmo nos Estados Unidos, ele bancou parte das despesas da viagem de Latrell. Além disso, numa troca de mensagens com o comerciante, identificado no celular como ‘’Patrick Irmão’’, enquanto Latrell usava o codinome de Eclesiastes 3, o braço direito de Zinho revelou que se mudaria de vez para a América do Norte.

Os documentos mostram ainda que os elementos que fundamentaram a operação se basearam, sobretudo, em informações obtidas em um dos celulares que pertencia a Latrell. Na época da prisão, a relação entre ele e Zinho estava abalada, próxima de um racha da quadrilha.

Hierarquia do crime

Com Patrick, Latrell falou sobre os conflitos com Zinho. E, apesar dos desentendimentos, houve um acordo para Latrell continuar a receber parte dos lucros e participar da administração dos negócios da quadrilha, como fica claro numa das mensagens que trocaram: “Irmão (Patrick), se eu fico ia ter que me posicionar, não vou levantar munição para um amigo meu, ia acabar em banho de sangue, e eu jamais derramaria sangue da família do Ecko’’, diz Latrell num trecho do diálogo.

Ecko era Wellington da Silva Braga, irmão de Zinho. O miliciano chefiava a quadrilha até ser morto em uma troca de tiros com policiais civis em 12 de junho de 2021, na comunidade Três Pontes, em Paciência.

Antes de Latrell ser preso, os investigadores também identificaram os principais nomes da quadrilha de Zinho. Na escala hierárquica da organização, depois do irmão de Ecko e Latrell, na sequência, vem: Allan Ribeiro Soares, o Malvadão, responsável por coordenar uma rede de informantes; Domício Barbosa de Souza, o Dom, e Vitor Eduardo Cordeiro Duarte, o Pardal, gestores financeiros; além de Matheus da Silva Rezende, Teteus ou Faustão, sobrinho de Zinho, apontado como possível sucessor do tio.

Com a prisão de Latrell, o setor de inteligência da Polícia Federal apontou que Geovane da Silva Motta, GG ou Latranha, substituiu o braço direito de Zinho.

O MPRJ e a PF já investigavam o grupo de milicianos pelo homicídio do policial militar Devid de Souza Matos, do 24º BPM (Queimados), em 22 de dezembro de 2021, durante um confronto em Seropédica, na Baixada Fluminense. Mas foi com o assassinato do ex-policial civil e ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, no último dia 8, em Campo Grande, que PF e MP decidiram desencadear a Operação Dinastia.

Jerominho foi um dos fundadores da milícia, mas perdeu o poder. Mesmo no presídio, Latrell recebeu a informação de que antigos integrantes da quadrilha de Jerominho e seu irmão, o ex-deputado estadual Natalino José Guimarães, estariam planejando matar Zinho para retomar as áreas controladas por ele.

‘Resolver esses velhos’

Em um diálogo entre Latrell e Faustão, os dois comentam o caso afirmando ter que “resolver esses velhos logo”, “praga do crl”(sic). Para o Gaeco, isso indicava uma conspiração para executar os irmãos Guimarães, ex-policiais chamados de “velha guarda” da milícia.

Outro grupo rival de Zinho é a milícia chefiada por Danilo Dias Lima, o Tandera, seu ex-aliado. As duas quadrilhas têm promovido, segundo as investigações, um banho de sangue na Zona Oeste. Para essa etapa, Danilo Cunha Durães, o Robô, tem um papel fundamental no bando de Zinho: levantar a rotina de milicianos e as placas dos veículos ligados a Tandera. Para isso, havia a caixinha para os colaboradores infiltrados nas áreas do inimigo.

Fonte: O Globo