Jovem relata rotina dolorosa de viver com câncer raro: 'Posso morrer em um mês'

Jovem relata rotina dolorosa de viver com câncer raro: 'Posso morrer em um mês'
Jovem descobriu a doença há pouco mais de um ano — Foto: Arquivo Pessoal

A artista Maristela Aparecida Souza de Silva, de 26 anos, enfrenta uma dura batalha contra um câncer raro, um linfoma não-Hodgkin de células T. Moradora de Bertioga, no litoral de São Paulo, ela foi diagnosticada há pouco mais de um ano com a doença, e nos últimos dois meses, descobriu que estava doente pela terceira vez.

O onco-hematologista Breno Gusmão explica que, pelo sistema linfático, trafegam glóbulos brancos, responsáveis por combater as doenças no corpo. O linfoma ocorre quando essas células passam a apresentar defeito genético, e começam a se reproduzir de maneira descontrolada, fator que causa o câncer. Geralmente, ele corresponde somente a 3% de todos os linfomas. O especialista afirma que um dos sintomas desse tipo de doença é tosse, falta de ar e cansaço.

Maristela apresentou exatamente esses sintomas pouco antes de descobrir o linfoma. Em entrevista ao G1, ela conta que, em abril de 2019, ficou doente e com uma tosse muito forte. Ao ir ao hospital, foi diagnosticada com bronquite. Após um breve tratamento, não apresentou melhora e teve que voltar ao médico. Um novo exame mostrou que ela apresentava manchas brancas no pulmão.

A paciente foi encaminhada, então, para um pneumologista. “Fiz outro raio-X e estava com água no pulmão, e para tirar, era só com cirurgia”, explica. Depois de ser internada às pressas, com uma crise forte de falta de ar, ela soube que estava com pneumonia, e passou por duas drenagens no pulmão. Com a piora no quadro, a jovem decidiu procurar por atendimento no Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo, em Mogi das Cruzes, e mais uma vez teve de drenar o pulmão, além do coração.

Em seguida, ao fazer biópsia, recebeu o diagnóstico de câncer, em outubro daquele ano, e deu início ao tratamento com sessões de quimioterapia. “Em fevereiro de 2020, a quimio parou de funcionar, o câncer parou de responder e começou a crescer de novo. Fiquei muito mal de novo, aí, trocamos o protocolo de quimioterapia, e esse segundo deu certo. Era muito mais forte, exigiu muito de mim, mas deu certo”, conta.

Depois de alguns meses, o câncer entrou em remissão, quando não há sinal de atividade da doença no corpo. No entanto, em setembro, ela passou a sentir novamente os sintomas do linfoma. “Comecei a ficar com o rosto inchado, muita fadiga, ter abscesso em lugares específicos do rosto. Voltei no médico e ele me falou que o câncer tinha voltado, e que a gente ia ter que fazer um outro tratamento”, conta.

Busca pela cura

Antes de a doença voltar, a jovem passaria por transplante autólogo de medula óssea, que é quando o paciente recebe as células dele mesmo, mas, com a reincidência do câncer, ela precisará passar por um transplante de medula de outro doador compatível. Para se preparar, ela precisava estar internada em um hospital com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) oncológica, ala não existente em Mogi das Cruzes.

Entre internações negadas por falta de vaga, pedido na Justiça, também indeferido, e o medo de não conseguir o tratamento a tempo, Maristela esperou por mais de um mês. Tudo o que ela queria era uma chance de lutar pela própria vida. “Eu confundi vários hospitais, vários médicos. Meu médico não acredita como eu entro no consultório dele andando, mas isso não significa que eu não esteja morrendo, sabe?”, desabafa.

O risco de morte é iminente, conforme laudo médico. Segundo ela, se não começar a receber novas quimioterapias, terá menos de um mês de vida, pois a doença voltou ainda mais agressiva. Durante a espera, a jovem desabafou nas redes sociais sobre a dura batalha de enfrentar o câncer pela 3ª vez.

“Essa é a coisa mais devastadora, difícil, dolorida e surpreendente que eu já vivi, mas hoje eu tô aqui pra falar mal do câncer, não tô aqui pra ver o lado bom dele não. A realidade é que eu tô cansada de viver isso. Cansada de ter que 'manejar' sintomas todos os dias pra conseguir fazer o básico com a vida que ainda me resta. Essa doença tá me matando todo dia.

Ela não tem a aparência de um câncer de mama, de uma Covid, de um câncer de pele. Não dá pra ver o que ela faz a olhos nus, mas aqui em casa a gente vê o que ela faz comigo todo dia... O linfoma é realmente agressivo, mas eu tô recebendo graça de Deus pra viver um dia de cada vez, de acordo com os dias que ele me dá. A realidade é que eu tô vivendo um dia de cada vez na esperança de que Deus vai abrir as portas do hospital certo, na hora certa, e eu vou receber o tratamento correto [sic]”, afirma na postagem.

Ela explica que a postagem foi um grito de socorro, pois não aguentava mais a situação. “Vários dias que não conseguia levantar nem para tomar banho. E eu sabia que meu tempo estava acabando. Aquela foto foi eu desistindo”, diz.

Em uma nova tentativa de ser internada, Maristela seguiu para o Hospital Santa Marcelina de Itaquera, na Zona Leste de São Paulo, na tarde desta sexta-feira (27), e conseguiu o que queria, uma chance de continuar seu tratamento. “Eu estou sentindo como se tivesse indo para a Disney”, finaliza.

Para falar sobre a doença, sintomas e o dia a dia de alguém com linfoma T, a artista conta sua história no YouTube, no canal Maristela Souza.

Fonte: Vanessa Ortiz, G1 Santos