Internação em alta leva SP a reclassificar quarentena na sexta-feira

Internação em alta leva SP a reclassificar quarentena na sexta-feira
O governador João Doria durante anúncio da eficácia da CoronaVac Foto: Divulgação / Governo de SP

SÃO PAULO — O governo de São Paulo anunciou que fará uma nova reclassificação do seu plano de flexibilização da quarentena nesta sexta-feira (15). A medida será tomada uma semana após o Centro de Contingência manter a maior parte do estado no fase amarela, que é considerada intermediária. A princípio, a reavaliação estava prevista apenas para o dia 5 de fevereiro, mas foi antecipada.

— Nos últimos dias, observamos que continuamos com a tendência (de aumento de casos) e seria necessário antecipar a reclassificação anunciada na sexta-feira para algumas regiões do estado. Nós temos hoje uma situação que ainda não está definida — afirmou Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência.

Na semana passada, o governo de São Paulo mudou as regras da quarentena no estado para evitar que regiões do estado avançassem para faseamentos mais flexíveis. Com as novas regras, para que regiões possam ir para a fase verde, a mais flexível do Plano SP, será necessário ter 30 internações por 100 mil habitantes  e 3 óbitos pro 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. Antes, o critério utilizado era de 40 internações e 5 óbitos por 100 mil habitantes.

Um dos critérios, segundo o Centro de Contingência, é a taxa de ocupação hospitalar. Caso atinja 70%, a região já se encaixaria na fase laranja do plano de retomada econômica, ou seja, passa a ter mais restrições. Segundo último boletim da Secretaria de Saúde, a Grande São Paulo tem 67,7% das UTIs ocupadas por pacientes com Covid-19. Em todo o estado, a taxa é um pouco menor: 65,4%. Em novembro, lembrou o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, a ocupação estava em 40%.

Na segunda semana epidemiológica do ano, afirma Gorinchteyn, São Paulo registrou 15.227 novos casos e 323 óbitos por Covid. A média móvel dos casos nos útimos cinco dias está acima dos 10 mil e, de mortes, acima de 200.

— Nós estamos com uma média de internação superior a 1.600 por dia no estado. Esses números são semelhantes aos que tivemos no mês de agosto, quando ainda estávamos no pico da pandemia — lembrou Gorinchteyn.

O aumento de casos ocorre em meio à preparação para o início da vacinação no estado, que permanece prevista para o dia 25. Nesta terça-feira, o Butantan anunciou a eficácia global da CoronaVac, que foi calculada em 50,34%. Para casos moderados, a vacina demonstrou índice de eficácia de 78%. A taxa global é menor do que os 78% porque inclui casos muito leves de coronavírus, ou seja, mesmo que a pessoa tenha se infectado, pode ter sido assintomática ou não ter necessitado de hospitalização.

Ao defender a CoronaVac, também durante a coletiva de imprensa comandada pelo governador de SP, Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan disse que se recusa a ser um "cientista tupiniquim envergonhado" ao ser questionado sobre os resultados da eficácia do imunizante:

— Sou um cientista com mais de 30 anos de carreira. Acredito que tenha respeito da comunidade científica nacional e internacional. Ontem apresentamos um resultado excepcional, do ponto de vista da ciência. Me recuso a ser afetado por um mal, que é chamada a síndrome do cientista tupiniquim envergonhado. Eu não sou, não quero ser e não me permito ser. A pesquisa apresentada ontem é a melhor pesquisa de vacina para o coronavírus até o momento. Tenho enorme orgulho do trabalho que estamos fazendo no Butantan, enorme orgulho das pessoas e dos centros de pesquisa que se dedicaram — afirmou Covas.

Durante a fase três do estudo de eficácia, ainda em andamento, 252 pessoas se infectaram: 85 no grupo que tomou a vacina e 167 entre os que receberam um placebo (substância que não gera efeitos no organismo). A eficácia global, de forma simplificada, é a diferença entre a taxa de infecção daqueles imunizados que foram infectados e os que ficaram doentes e não receberam a vacina. Entre os infectados que foram imunizados, ninguém precisou ser internado num hospital.

A vacina está em processo de análise na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No último sábado, a Anvisa pediu mais informações ao Instituto Butantan para a aprovação, em forma emergencial, do imunizante CoronaVac. Segundo o Painel de Acompanhamento, a agência já concluiu 40% da análise da documentação enviada e outros 29% ainda estão pendentes de complementação. Além disso, 24% permanecem em análise e 5% dos documentos, segundo a Anvisa, não foram apresentados.

Nesta quarta-feira, o governo de SP lançou o programa Conecta Educação, com investimento de R$ 1,5 bilhão na compra de computadores, TVs, instalação de wi-fi e itens para melhorar a conectividade nas 5 mil escolas da rede estadual. Mesmo com a reclassificação do estado diante da pandemia, ainda que alguma região vá para a fase vermelha, a mais crítica do Plano SP, as aulas serão mantidas na rede, com limite de alunos por sala de aula, ressaltou o governo.

Nesta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro ironizou a eficácia de 50,38% da CoronaVac, divulgada na terça-feira pelo governo de São Paulo. Bolsonaro disse que a "verdade" está aparecendo, sem especificar a que se referia, mas repetiu que o governo comprará qualquer vacina que tenha o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Ministério da Saúde já assinou um contrato para comprar 46 milhões de doses da CoronaVac. 

A declaração do presidente foi feita durante conversa com apoiadores, no Palácio da Alvorada. Um homem falava sobre a importância da vacina contra a Covid-19, quando Bolsonaro disse, rindo:

— Essa de 50% é uma boa?

Em seguida, o presidente afirmou que está há "quatro meses apanhando por causa da vacina", mas que não quer "agradar quem quer que seja":

— O que eu apanhei por causa disso...Agora estão vendo a verdade. Estou (há) quatro meses apanhando por causa da vacina. Entre eu e a vacina tem a Anvisa. Não sou irresponsável. Não estou a fim de agradar quem quer que seja.

Fonte: Ana Letícia Leão e Dimitrius Dantas/O Globo