Estudo da UFMG estima que crianças de 0 a 5 anos têm menor chance de contágio por Covid em escolas
A contaminação por coronavírus entre crianças de 0 a 5 anos que frequentarem escolas será mais branda que em outras faixas etárias, estima estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo, feito pelos departamentos de Sociologia e Estatística, pretende construir um modelo epidemiológico a partir de interações sociais.
Em uma simulação preliminar, os pesquisadores projetaram que, tomando como referência metade de uma turma de 40 alunos, a contaminação é mais branda entre crianças de 0 a 5 anos, exatamente a faixa etária que vai voltar primeiro às salas de aula em BH.
A doença demoraria, neste caso, cerca de 30 dias para atingir o pico, com número estimado de 20 contaminados. Com o uso de máscaras, em 60 dias, o número estimado de contaminados cai para 10.
No grupo de crianças entre 6 e 14 anos, o pico chegaria em apenas 9 dias, com 90 pessoas contaminadas. Com o uso de máscaras, o pico ocorreria no 10º dia, com 80 contaminados.
Já na faixa etária de 15 a 19 anos, o pico de casos da doença é atingido no 8º dia, com cerca de 80 contaminados. Com uso de máscaras, o pico é deslocado para o 13º dia, com contaminação estimada de 40 pessoas.
A abertura de escolas sem medidas de controle pode provocar nova aceleração do contágio do coronavírus.
“A questão chave em tudo isso é: será feita testagem PCR para quantas pessoas por escola? Terá o sistema escolar capacidade de identificar infectados e fazer isolamento em tempo hábil?”, questiona o coordenador do estudo, Silvio Salej, que enfatiza que o controle é primordial para frear o contágio.
Modelo epidemiológico
Agora, os pesquisadores querem partir para outros grupos etários e fora do ambiente escolar. Para isso, pretendem, nos próximos meses, fazer a coleta de informações com aplicação de questionários em mil domicílios de uma mesma comunidade.
Partindo de modelos já aplicados na União Europeia, o estudo da UFMG pretende mensurar os inúmeros contatos que uma pessoa tem por dia, levando em conta a idade e os locais onde tem contatos – em casa, na escola, no trabalho, na vizinha.
Os modelos epidemiológicos gerados vão possibilitar estimar, de forma realista, o curso não só da Covid-19, mas também da Síndrome Respiratória Aguda Grave.
De acordo com Sílvio Salej, serão avaliados grupos etários diversos (0 a 14 anos, 15 a 29 anos, 30 a 59 anos e acima de 60) e seus contatos. Com base nas informações, será possível estimar o tipo e quantidade de contatos destas pessoas, para criar projeções de contágio e evolução da pandemia.
“Este projeto visa implementar modelos epidemiológicos matemáticos, que incorporam informações dos contatos físico das pessoas, para poder fazer prognósticos sobre cursos pandêmicos”, disse o coordenador do estudo, Silvo Salej.
Para o professor, as interações sociais devem ser levadas em conta porque monitorar somente índices de isolamento não é o suficiente. “Estas informações dizem onde estou, mas não dizem se estou num bar, por exemplo, com cinco ou mais pessoas”.
A intenção é que este modelo epidemiológico possa embasar decisões importantes do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Salej, o objetivo não é resolver de imediato o caos da Covid, mas disponibilizar uma ferramenta que seja útil no futuro.
“O importante é entregar a ferramenta que seja útil para monitoração epidemiológica, para doenças respiratórias agudas. Precisamos incorporar na nossa cultura e pleitear nosso estado maiores recursos para pesquisas”, comentou.
Fonte: Patrícia Fiúza, G1 Minas — Belo Horizonte