Entenda o que é o câncer do colo do útero, doença que acometeu Fátima Bernardes
Esta semana, a apresentadora Fátima Bernardes usou suas redes sociais para comunicar que está com câncer de útero em fase inicial e se submeterá a uma cirurgia para o tratamento da doença. Mãe dos trigêmeos Vinicius, Beatriz e Laura, de 23, de sua relação com William Bonner, de 57, a jornalista, de 58, afirmou ter descoberto a enfermidade depois de uma série de exames de rotina.
Atualmente, o tipo de câncer que acometeu Fátima está entre os de maior incidência no país, sendo estimados que até o fim deste ano, 16710 mulheres terão o diagnóstico da doença. Para explicar o que é o câncer de útero, Quem conversou com a médica Marcella Marinho, que é especialista em ginecologia e obstetrícia pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), pós-graduada em laparoscopia e histeroscopia pelo Hospital do Servidor Estadual (IAMSPE), em Sexualidade Humana pela USP e em Ciências da Longevidade Humana – Grupo Longevidade Saudável.
O que causa o câncer de útero?
O câncer do colo de útero é caracterizado pela replicação e crescimento desordenado das células do colo causados por uma infecção persistente por subtipos oncogênicos do HPV, que ocorre por transmissão sexual. Alguns outros fatores de risco relacionados à resposta imunológica individual também estão associados à maior chance de desenvolvimento de câncer de colo após essa infecção pelo HPV.
Qual é a incidência na população?
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a incidência na população brasileira em 2020 será de 16.710 casos novos, com um risco estimado de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de colo é o quarto tipo de câncer com maior incidência na população feminina (seguidos pelo câncer de mama, cólon e reto e pulmão) e também a quarta causa de mortalidade por câncer em mulheres no país. O câncer do colo de útero é raro em mulheres até 30 anos e o pico de sua incidência se dá na faixa etária de 45 a 50 anos.
O que aumenta o risco?
Considerando os conhecimentos atuais em relação ao papel do HPV na carcinogênese do colo uterino, o fator de risco mais importante para esse tipo de neoplasia são os aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV (subtipo e carga viral, infecção única ou múltipla). Outras causas ligadas à imunidade, à genética, o tabagismo, a idade, infecção por clamídia, a iniciação sexual precoce, a multiplicidade de parceiros sexuais, múltiplas gestações, dieta e o uso de contraceptivos orais são consideradas fatores de risco para o desenvolvimento de câncer do colo do útero. Embora esses fatores possam influenciar o desenvolvimento do câncer, eles não causam diretamente a doença. Entretanto, é importante conhecê-los para que as mulheres que têm esses fatores façam exames de rastreamento regulares para diagnosticar precocemente o câncer de colo de útero.
Como é possível prevenir?
As estratégias para prevenção do câncer de colo de útero ocorrem por meio de ações de educação em saúde, vacinação de grupos indicados e a realização periódica do exame citopatológico (Papanicolau ou preventivo) para detecção precoce do câncer ou suas lesões precursoras. O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram ou têm atividade sexual. Os exames periódicos devem seguir até os 64 anos de idade. Em alguns grupos de risco ou situações excepcionais, o exame citopatológico deve ser realizado com intervalos semestrais.
Quais são os sinais e sintomas?
A maioria é assintomática. Isso porque geralmente a história natural do câncer do colo de útero apresenta um longo período de lesões precursoras de desenvolvimento lento (cerca de 10 anos), que pode cursar sem sintomas em fase inicial e curáveis na quase totalidade dos casos quando tratadas adequadamente. Pode também apresentar sangramento vaginal irregular ou após a relação sexual. Os sintomas como secreção vaginal anormal, dor abdominal associada com queixas urinárias ou intestinais geralmente estão presentes nos casos mais avançados.
Como é feito o diagnóstico?
Uma vez que o resultado do exame de rastreamento é indicativo de lesão precursora ou câncer de colo, a paciente deverá realizar um exame complementar de colposcopia e biópsias para confirmar o diagnóstico. Caso seja confirmado, outros exames são necessários para fins de estadiamento da doença e também planejamento terapêutico: exame clínico locoregional, exames laboratoriais, ultrassonografias, tomografias computadorizadas, ressonância nuclear magnética, radiografia de tórax, cistoscopia, urografia excretora e retossigmoidoscopia.
Qual é o tratamento?
O tratamento eleito depende do estágio da doença. Quando o câncer encontra-se confinado ao colo uterino (Estádio I), é possível tratá-lo com cirurgias, como a histerectomia. O médico também pode prescrever quimioterapia, radioterapia ou braquiterapia (um tipo específico de radioterapia na genitália interna). Apenas nos tumores microinvasivos a cirurgia poderá ser conservadora, com retirada de apenas uma porção do colo uterino, tornando-se uma opção para as mulheres que ainda desejam ter filhos. Em situações que o tumor cresceu além do colo e invadiu outras estruturas (Estádios II, III e IVA), com características mais agressivas, o tratamento é realizado com radioterapia na pelve, quimioterapia ou braquiterapia.
Qual é a chance de cura quando o câncer de útero é detectado na fase inicial, como o da Fátima?
Em fase não invasiva, como chamamos os estágios iniciais, o câncer de colo do útero tem altas chances de cura (entre 80 e 90%). E nos casos que não existe disseminação da doença, a taxa de sobrevida, em 5 anos das pacientes adequadamente tratadas, é de 92%.
No caso da Fátima, por exemplo, qual deve ser o tratamento?
Apenas a equipe médica que acompanha o caso dela poderia responder de forma assertiva esta pergunta, tendo em vista que é o estadiamento do câncer de colo do útero o fator mais importante na escolha de tratamento. Outros fatores que podem influenciar nessa decisão incluem a localização exata do tumor, o tipo de doença (espinocelular ou adenocarcinoma), a idade da paciente, a condição física geral e se a paciente deseja ter filhos. No entanto, pelo relato dela de que irá realizar uma cirurgia, podemos inferir que se trata de um câncer de colo no estadiamento inicial (Estádio I).
Fonte: Quem News/Globo.com