É fome, por favor, é fome: vídeo mostra homem implorando por alimento em condomínio de Brasília, e internautas dizem que cena é frequente

É fome, por favor, é fome: vídeo mostra homem implorando por alimento em condomínio de Brasília, e internautas dizem que cena é frequente
Se identificando como Marcos, o rapaz pede para alguém comprar um arroz e leite para a família Foto: Reprodução

RIO — O vídeo de um homem implorando por alimento em uma rua cercada por prédios, em Brasília, repercutiu nas redes sociais, nesta terça-feira, como mais um retrato da fome e da pobreza no Brasil. Se identificando como Marcos, o rapaz pergunta se alguém pode comprar arroz e leite para a família e, em seguida, grita: “é fome, por favor, é fome!”. O momento foi registrado por um morador de um dos condomínios, que afirmou que a cena tem se repetido toda semana no local.

Em apenas 18 segundos, o jornalista Carlos Alberto Júnior filmou o apelo e, em seguida, desceu para falar com Marcos. Em entrevista ao GLOBO, ele contou que o homem disse que mora em Goiás, mas que toda semana vai a Brasília para pedir alimentos porque está desempregado. Na ocasião, o rapaz estava acompanhado pela mulher e um casal de adolescentes, que disse serem seus filhos. Ele compartillhou ainda que deixou outras quatro crianças em casa, com fome.

— Quando fui falar com ele, ele disse que não estava fazendo nada errado e só precisava pedir comida. Ele é ajudante de pedreiro, disse que não tem preguiça de trabalhar, mas que não encontrava emprego — relatou o morador. — A fome é uma coisa triste, dava para sentir a voz rouca e faminta, e as pessoas vêm geralmente na mesma situação pedir por aqui porque é uma região de classe média. Então, acreditam que vão receber mais ajuda — completou.

Em menos de três semanas, essa é a terceira vez que Carlos Alberto vê pessoas indo até a quadra do prédio implorar por alimento. Um dos casos foi de uma senhora, que carregava uma placa de papelão com sua chave pix, para que os moradores do condomínio pudessem ajudar. Na semana passada, ele também presenciou venezuelanos, com fotos dos filhos nas mãos, pedindo ajuda para matar a fome.

Nos comentários da publicação, internautas escreveram que o Distrito Federal inteiro convive com cenas de pessoas implorando por comida diariamente. Um deles escreveu que onde mora um rapaz passa gritando nos blocos "ajuda pelo amor de Deus", e complementou afirmando que em 15 anos morando em Brasília, nunca tinha visto situação semelhante. Outro compartilhou o mesmo relato, e disse ainda que nos supermercados e bancos as cenas são frequentes.

Alguns usuários de outros estados também comentaram que presenciam apelos como o de Marcos onde moram.

Mais da metade dos brasileiros estão em insegurança alimentar

Uma pesquisa divulgada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontou que a pandemia deixou 19 milhões de pessoas com fome em 2020, atingindo 9% da população brasileira. O número de pessoas nessa situação quase dobrou, quando comparado à pesquisa do IBGE de 2018, que identificou 10,3 milhões de brasileiros nessa condição.

Além disso, pela primeira vez em 17 anos, o Brasil registrou 116,8 milhões de pessoas em insegurança alimentar. Ou seja, mais da metade da população não teve certeza se haveria comida suficiente em casa no dia seguinte, diminuindo a qualidade e a quantidade do consumo de alimentos, ou até passou fome.

O Nordeste foi a região brasileira com o maior número absoluto de pessoas nessa condição. De acordo com o estudo, são quase 7,7 milhões de nordestinos que passam fome, dentro do que se considera grave insegurança alimentar. A região Norte, por sua vez, representa 14,9% das pessoas que não têm o que comer no país. Apesar de ocupar uma parcela significativa nesse ranking, os estados nortistas abrigam apenas 7,5% da população do país.

Os dados mostram ainda que mulheres e negros são a parcela mais atingida pela fome. A falta se alimentos foi registrada em 11,1% dos domicílios chefiados por mulheres. Quando a pessoa de referência é um homem, a parcela dos que passam fome é de 7,7%. Entre pessoas pretas ou pardas, cerca de 10,7% dos lares enfrentam insegurança alimentar grave, contra 7,5% entre os brancos.

Fonte: Pâmela Dias/O Globo