Caso Henry: advogado de Leniel passa a defender Jairinho em processo de tortura contra filha de ex-namorada

Caso Henry: advogado de Leniel passa a defender Jairinho em processo de tortura contra filha de ex-namorada
Jairinho é acusado pelos crimes de tortura e homicídio qualificado contra o enteado, Henry Borel Medeiros, e ainda fraude processual e coação no curso do processo Foto: Arquivo O Globo

RIO —  O advogado Flavio Fernandes, que representou o engenheiro Leniel Borel de Almeida como assistente de acusação no processo em que sua ex-mulher Monique Medeiros da Costa e Silva e o ex-namorado dela Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, são réus pela morte de Henry Borel Medeiros, agora defende o médico e ex-vereador. Ele se habilitou na ação em que o ex-parlamentar responde por tortura contra a filha de uma ex-namorada, na 2ª Vara Criminal do Fórum de Bangu, e cuja primeira audiência acontecerá nessa quarta-feira, dia 2.

Em vídeo divulgado nas redes sociais no ano passado, Flavio Fernandes afirmava que Henry, a quem descreveu como “um menininho lindo e carinho”, tinha sido “covardemente assassinado”. “Foi um assassinato covarde, movido por ganância, luxo, conforto, maldade. Só isso já seria suficiente para impor ao Leniel um sofrimento que nenhum de nós é capaz de mensurar”, pontuou o advogado, que completou: “Ele estava com a mãe e ninguém defende seu filho como a mãe, ou pelo menos como a maioria delas. Eles estavam separados, eles se davam bem e naquele lugar onde o pai imaginava que seu filho estava sendo cuidado e protegido, foi justamente onde ele foi covardemente assassinado”.

Após Jairinho assinar a procuração dando poderes ao advogado para atuar no processo, no último dia 22, o advogado voltou a se manifestar pelas redes sociais. Em uma nota divulgada no perfil de seu escritório no Instagram, Fernandes esclareceu que não mais atua no “caso Henry Borel”. “Apesar de outrora ter se habilitado como assistente de acusação, não realizou qualquer ato processual, não teve acesso a quaisquer informações privilegiadas, desistindo da posição em curtíssimo tempo (menos de três meses)”, escreveu. Ele ainda completou: “O escritório escolhe bem as causas em que atua, em 21 anos de advocacia preza pelo Processo Penal Democrático, tem compromisso com os princípios e garantias constitucionais e repudia a influência sensacionalista da mídia sobre fatos jurídicos, que por vezes condena antecipadamente pessoas sem provas.”

De acordo com a denúncia do Ministério Público, Jairinho teria torturado a filha da ex-namorada, uma cabeleireira, entre os anos de 2011 e 2012. “Tem-se que o denunciado batia com a cabeça da vítima contra diversos lugares, chutava e desferia socos contra a barriga da criança, além de afundá-la na piscina colocando seu pé sobre sua barriga, afogando-a, e de torcer seu braço”, diz o documento.

As investigações da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) mostraram que a ex-namorada tinha conhecido Jairinho em 2010, eles chegaram a ficar noivos e mantiveram um relacionamento por cerca de quatro anos. Ao delegado Adriano França, titular da especializada, ela contou, nesse período, ter tido a cabeça batida pelo então padrasto contra a parede do box de um banheiro e até ter sido pisada por ele nos fundos de uma piscina para que não conseguisse levantar e respirar.

A avó da criança, que também foi ouvida pelos investigadores, relatou que, ao questionar o vereador sobre um machucado na testa da menina, ele respondeu que o ferimento foi provocado por uma batida no console do carro após uma freada brusca durante ida a um shopping. Em outra ocasião, disse a avó, a garota chegou com o braço imobilizado e Jairinho disse que ela teria se lesionado durante as aulas de judô. O professor da academia, também em depoimento, negou ter recordações desse episódio. A avó ainda disse ter estranhado o comportamento da neta quando ela a agarrou e, chorando e vomitando, pediu para que não a deixasse sair sozinha com Jairinho. Cerca de oito meses depois, ao assistir a um programa de televisão que abordava casos de violência doméstica, a menina admitiu as agressões que sofrera.

— Ele agia de forma clandestina e sem testemunhas. O perfil do Jairinho era carinho e violento ao mesmo tempo, com práticas de toda sorte de agressões: chutes, socos, torções, afogamentos — disse o delegado Adriano França, na ocasião da conclusão do inquérito.

Ao ser por torturas e homicídio de Henry Borel, em 8 de abril, por policiais da 16ª DP (Barra da Tijuca), Jairinho negou as acusações feitas pela ex-namorada. Em relação à filha da cabeleireira, o vereador disse que eles tinham uma relação “amistosa” e não mantinha com ela “grau de intimidade”, negando que tenha saído sozinho com a criança ou a levado a qualquer lugar que tivesse piscina. Ele também contestou as informações de que teria torcido o braço dela, dado “mocas” em sua cabeça e colocado um saco em seu rosto para sufocá-la.

Fonte: Paolla Serra/O Globo